Uma grande obra da paz
O presidente do conselho da administração do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), José Carlos Gomes, disse ao Jornal de Angola que a empresa “começou a trilhar o rumo certo”, com a criação, ao longo da via-férrea, das infra-estruturas e serviços que vão potenciar e dar dimensão económica regional ao Corredor Lobito.
José Carlos Gomes afirmou que o CFB é uma marca patenteada, tem uma história, desde sempre ligada à melhoria da mobilidade dentro de Angola e nos países vizinhos. Os comboios circulam entre o Porto Comercial do Lobito e a fronteira do Luau há mais de um século. O transporte ferroviário tem um valor inestimável para toda a África Austral.
O presidente do conselho da administração do Caminho-de-Ferro de Benguela acrescentou que as linhas férreas de Angola, República Democrática do Congo e Zâmbia vão reactivar ligações entre regiões isoladas há dezenas de anos, devido à guerra imposta pelos invasores estrangeiros com a colaboração de Jonas Savimbi e os seus “senhores da guerra”.
As populações que até agora estavam separadas, devido à guerra imposta pela UNITA e os seus chefes, vão poder viajar e realizar trocas comerciais através de um meio rápido, eficaz, cómodo e barato. Os comboios do Caminho-de-Ferro de Benguela viajam agora desde o litoral à fronteira Leste, levando nas locomotivas a bandeira da paz.
No momento em que o primeiro comboio apitou na estação do Luau, houve festa e esperança. A locomotiva e as carruagens engalanadas mostravam a alegria por mais uma grande vitória do Povo Angolano em tempo de reconstrução e reconciliação nacional. Mas todos se recordaram que a paz não cai do céu e para que ela fosse efectiva e contribuísse para a reconstrução do CFB, foi preciso que o Presidente José Eduardo dos Santos fosse, além de líder das forças que combateram e derrotaram os invasores, o arquitecto da paz.
Os comboios chegam hoje a todas as estações ferroviárias de Angola porque os invasores estrangeiros e os seus aliados internos, capitaneados por Jonas Savimbi, foram derrotados pelos Heróis da Pátria.
Com a entrada em funcionamento do comboio, que passa a ter duas viagens semanais entre o Lobito e o Luau, os produtos agrícolas que se costumavam deteriorar no meio rural, podem agora chegar mais rápido aos mercados das cidades do Bié, Huambo e Benguela, onde já estão instaladas unidades de grande e média superfície e pequenas lojas, como referiu José Carlos Gomes. A circulação de pessoas está agora mais fácil. O comércio regional ganha agora uma dimensão nunca vista. Mas os países vizinhos, sobretudo a região mineira do cobre na República Democrática do Congo, têm grandes ganhos com mais esta grande vitória dos angolanos e do Arquitecto da Paz.
Novas oportunidades
Para o economista Carlos Pacatolo, os meios de transporte “são de capital importância na correcção das assimetrias regionais, no estímulo às actividades económicas e no intercâmbio cultural, económico e social entre regiões”.
O ritmo de mudanças, afirmou o economista, é cada vez maior e impõem-se novas formas de gestão e de abordagem aos mercados.
Os empresários da região beneficiada pelo Caminho-de-Ferro de Benguela têm de mobilizar competências, “procurar respostas eficazes para as mudanças e exigências do mercado actual”, o que vai implicar um processo de aprendizagem colectivo: “Só sobrevivem as empresas com capacidade de adaptação aos novos tempos”, afirmou Carlos Pacatolo.
O economista defendeu mais facilidade no acesso ao financiamento para reforçar a competitividade das empresas integrantes do Corredor do Lobito e estimular o empreendedorismo e a inovação. Todos os centros ferroviários das províncias de Benguela (interior), Huambo, Bié e Moxico têm no transporte ferroviário uma alavanca poderosa que vai garantir o progresso social e o crescimento económico.
Valorização do interior
A rede viária está a mudar o panorama social e económico de Angola.
A mobilidade, as oportunidades de negócios, a criação de empregos e o surgimento de uma rede comercial nas zonas mais deprimidas do interior de Angola devem-se às novas e modernas estradas nacionais.
O comboio veio completar esta oferta de transporte e no caso das províncias do interior, sobretudo Huambo, Bié e Moxico, é um instrumento fundamental para acabar com a depressão económica e a desertificação humana.
Hoje os jovens começam a regressar às zonas de origem dos seus pais, no interior do país. Milhares de famílias que na altura da guerra de Jonas Savimbi fugiram para os centros urbanos do litoral, estão a regressar às suas terras.
O comboio vai acelerar estas movimentações humanas que em breve podem dar mais equilíbrio demográfico e combater as assimetrias entre o interior e o litoral.
Os comboios do CFB, como aconteceu com as composições do Caminho de Ferro de Moçâmedes e do Caminho-de-Ferro Luanda, vão contribuir de uma forma decisiva para o processo de desconcentração populacional junto à faixa litoral.
O aumento do número de viagens do comboio e um maior conhecimento das potencialidades existentes ao longo da linha férrea vão servir de chamariz para muita mão-de-obra hoje desocupada nas cidades do litoral. O clima mais ameno no interiorpossibilita desenvolver a actividade agrícola e comercial. A Juventude está a apanhar os comboios do progresso.
Interacção económica
Com a consolidação do Corredor do Lobito na economia regional, abrem-se as portas para outras actividades económicas, como a agricultura e a indústria, que requerem equipamentose recursos humanos qualificados.
A falta de quadros na região e de uma cultura empresarial, sobretudo no ramo da indústria, exige que sejam criadas condições para atrair mão-de-obra qualificada e empreendedores dispostos a assumir riscos, actividades conexas e em particular no âmbito do sector dos serviços.
A linha do CFB tem 1344 quilómetros de extensão, do Lobito ao Luau (Moxico), na fronteira com a República Democrática do Congo, com passagem por inúmeras estações e apeadeiros.
Construída entre 1903 e 1929, com o principal propósito de servir de canal de escoamento do minério do Katanga, no então Congo Belga, hoje República Democrática do Congo e daCopperbelt, na Zâmbia, teve a circulação interrompida durante os anos da guerra imposta por Jonas Savimbi, que destruiu carris, pontes e pontões, além de matar passageiros, operários ferroviários e incendiar locomotivas e carruagens.A circulação foi reposta em Agosto de 2012. Mas só agora chegou à estação do Luau, a última dentro de Angola.
Associado ao CFB está o Porto Comercial, ponto de partida do Corredor do Lobito, dotado de modernas infra-estruturas de apoio, como o terminal de contentores, com uma área de construção de 414 metros de cais e 15 hectares de parque de armazenamento, o porto seco com nove hectares para contentores e outro terminal só para tratamento e acondicionamento de minério.