Rússia prepara novos investimentos para África

PRESIDENTE DA RÚSSIA, VLADIMIR PUTIN (ARQ) FOTO: PEDRO PARENTE

PRESIDENTE DA RÚSSIA, VLADIMIR PUTIN (ARQ)
FOTO: PEDRO PARENTE

21 Outubro de 2019 | 19h55 – Actualizado em 22 Outubro de 2019 | 07h53

Sochi (Dos enviados especiais) – O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que o seu país prevê assegurar para África, nos próximos cinco anos, “um volume de investimentos bastante significativo”, mas exigiu a criação de condições para materializar os negócios.

Em entrevista à agência noticiosa russa TASS, a propósito da Cimeira Rússia-África, o estadista adiantou que “hoje em dia estão a ser preparados e implementados projectos de investimento, com participação russa, no valor de milhares de milhões de dólares”.

“Tanto a Rússia, como as nossas empresas, têm à sua disposição recursos substanciais”, declarou Putin, sem especificar o valor global previsto para investir neste quinquénio.

Na entrevista, em que fala sobre as novas perspectivas da cooperação com os governos africanos, o líder russo também não avança as novas potenciais áreas de investimento.

Segundo Putin, no quadro desses investimentos, os parceiros africanos devem criar condições necessárias para a realização dos negócios e mecanismos de protecção dos investimentos, bem como  proporcionar um clima favorável para os investidores russos.

A Rússia é um actor importante no continente desde a era da antiga União Soviética, em que apoiou movimentos de independência e treinou uma geração de líderes africanos.

No quadro da cooperação estratégica com este continente, as empresas russas têm investimentos em vários domínios, como do petróleo e gás, no Egipto e na Nigéria, dos diamantes, em Angola, e dos metais, na Guiné-Bissau e na África do Sul.

A Rússia também usou uma combinação de exportação de armas, experiência em segurança e apoio aos governos locais, para aprofundar a presença política e económica.

Moscovo é um fornecedor notável de armas de baixo custo e baixa sofisticação para a África, há aproximadamente 60 anos, e sempre interessou-se em ajudar os Estados africanos a construir instalações de energia.

Segundo o Presidente da Rússia, hoje estão em vigor acordos no domínio militar com mais de 30 países africanos, aos quais fornecem vários tipos de equipamentos.

“Continuaremos a contribuir para a preparação do pessoal militar dos Estados de África e o treino dos pacificadores africanos”, adiantou.

Vladimir Putin assinalou com agrado a evolução da cooperação com África em todos esses domínios e afirmou que hoje “as relações russo-africanas estão em ascensão”.

Explicou que, com a comunidade internacional, o seu país fornece assistência abrangente à África, inclusive na redução do encargo da dívida dos Estados da região.

Nesse quadro, estão a implementar programas de “dívida por desenvolvimento” com vários países africanos, e a ajudar no combate às doenças infeciosas (inclusive a febre hemorrágica Ébola), na superação das consequências das calamidades naturais e solução de conflitos.

O estadista assinalou, de igual modo, o facto de recursos humanos africanos estarem a ser formados em universidades russas, de forma gratuita ou comercial, e de estarem a estabelecer a cooperação entre ministérios de defesa e estruturas policiais.

Segundo Putin, na agenda da cooperação há muito mais iniciativas, sublinhando que o desenvolvimento e a consolidação dos laços mutuamente benéficos com os países africanos e as suas associações de integração está, hoje, entre as prioridades da política externa russa.

A propósito da Cimeira Rússia-África, que vai decorrer de 23 a 24 deste mês, disse esperar que os líderes africanos, representantes da comunidade empresarial, tragam a Sochi um pacote considerável de propostas para expandir as relações bilaterais.

Putin augura que os líderes das organizações regionais africanas compartilhem as suas visões sobre a maneira de desenvolver juntos a cooperação multilateral.

Quanto à política externa, afirmou que o seu país, sendo o membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, defende a democratização da vida internacional, apoia a aspiração justa dos estados africanos a realizar uma política independente, soberana e a determinar por si próprios, sem imposições, o seu futuro.

Pelo facto de África estar a tornar-se cada vez mais um continente de oportunidades e possuir recursos enormes, atractividade económica, perspetivas significativas de investimento e de lucro, afirmou que a Rússia vai continuar a trabalhar para reforçar a cooperação com os africanos, mas numa competição saudável com outras potências.

“Estamos prontos não para a luta pela redistribuição das riquezas do continente, mas sim para a competição pela cooperação com a África. O mais importante é que seja civilizada, se desenvolva no campo do direito. Temos muito a oferecer aos amigos africanos. Vai-se tratar disto, em particular, na próxima Cimeira”, assinalou.

Vladimir Putin afirmou que o seu país pretende, com os parceiros africanos, defender os interesses económicos comuns, protege-los das sanções unilaterais, inclusive por via da diminuição da quota do dólar nas transações mútuas e transição para outras moedas.

Em relação à concessão de créditos, explicou que estes têm hoje a natureza de mercado.

Sublinhou que a Rússia tem contribuído para os programas internacionais de assistência à África no âmbito do Programa da ONU para o Desenvolvimento, da Organização Mundial da Saúde, do Programa Alimentar Mundial e da Organização Internacional de Proteção Civil.

Em relação à segurança regional, o Presidente russo reafirmou o apoio do seu país na resolução dos conflitos em África, onde continua a haver regiões instáveis, conflitos intranacionais e étnicos não resolvidos, crises políticas e económico-sociais graves, numerosas organizações terroristas, inclusive Daesh, Al-Qaeda, Boko Haram e Al-Shabaab, muito activas na África do Norte, zona do Sahel e Saara, região do Lago Tchad e no Corno de África.

“Continuaremos a ampliar a rede de contactos entre os serviços especiais e estruturas policiais da Rússia e dos países da África no domínio do combate contra o terrorismo, crime organizado, tráfico de drogas, branqueamento de capitais, migração ilegal e pirataria”, concluiu.

FacebookTwitterGoogle+