Petróleo barato impulsiona diversificação
A queda dos preços do petróleo pode ser “favorável para Angola a médio prazo” porque vai forçar uma aceleração da estratégia de diversificação da economia, defende a unidade de Estudos Económicos e Financeiros do Banco Português de Investimento.
Num relatório sobre a economia de Angola, o primeiro deste ano, os analistas do BPI explicam que “a actual situação pode mesmo vir a revelar-se favorável à economia angolana a médio prazo, na medida em que, mais uma vez, se torna muito evidente a necessidade imperativa de diversificação económica”.
No documento, de 24 páginas, explica-se que a diminuição de 15 por cento nas receitas do sector petrolífero em 2014 advém de dois factores: a descida na produção, registada durante o primeiro semestre, e a quebra dos preços, verificada na segunda metade do ano.
“A queda da produção afectou o desempenho das receitas (de exportação e fiscais) durante a primeira metade do ano e a trajectória descendente dos preços foi o principal factor a justificar a queda das receitas na segunda metade do ano”, dizem os analistas.
“Durante a primeira metade de 2014, a actividade petrolífera em Angola acabou por ficar fortemente afectada pela paragem da produção em alguns poços petrolíferos para trabalhos de reparação e manutenção, tendo a produção média diária caído para 1,59 milhões de barris por dia durante o primeiro semestre”, lê-se no documento.
“Na segunda metade do ano, a produção acelerou consideravelmente para uma média de 1,7 milhões de barris por dia, sugerindo que os problemas técnicos que estavam a condicionar a produção foram ultrapassados”, acrescenta o documento do BPI.
A média diária do ano passado caiu para 1,65 milhões de barris por dia, “que compara com uma produção média de 1,76 milhões de barris por dia em 2013, ficando também aquém da capacidade de produção de 1,87 milhões de barris por dia e do objectivo das autoridades de se aproximarem dos dois milhões”, uma meta inicialmente traçada para este ano, mas que já em 2014 foi oficialmente adiada para 2017.
Em termos de receitas fiscais, a quebra rondou os 15 por cento no total do ano, o que pode ser agravado com a possível decisão dos investidores de não apostarem mais no petróleo angolano, que tem altos custos de exploração, apesar de nem sempre as variações de preço determinarem as decisões de investimento.
Neste contexto, advertem os analistas do banco português, “e apesar das companhias petrolíferas continuarem a mostrar-se interessadas em explorar as camadas pré-sal, a viabilidade comercial de alguns projectos pode ficar ameaçada”, isto apesar de se saber que, “para projectos desta natureza, com um horizonte de investimento de médio e longo prazo, estas variações nos preços podem não ser factor determinante para as decisões de investimento”.
País à altura
O país está hoje mais preparado do que antes, “nomeadamente no nível mais elevado das reservas internacionais, criação do Fundo Soberano de Angola, nível da inflação e a redução de subsídios aos combustíveis”, afirmam os analistas, salientando que da parte das autoridades angolanas, a resposta também está a ser, nesta crise, mais positiva que na crise financeira do final da década passada.
“A resposta das autoridades tem sido também diferente em relação à postura de 2009, quando a moeda registou praticamente estabilidade (câmbio ancorado face ao dólar até Outubro de 2009), reflectindo-se no rápido esgotamento das reservas e solicitação da linha de financiamento ao FMI”, lembra o BPI, concluindo que, “em contraste, a actual situação tem vindo a ser acomodada com o deslize gradual do câmbio, sinalizando uma resposta mais rápida que deve minorar outras consequências potencialmente mais adversas”.