Parabéns, José Adelino Barceló de Carvalho, “Bonga”
Parabéns, Bonga
José Adelino Barceló de Carvalho, “Bonga” ou ainda “Bonga Kwenda”, completa esta sexta-feira, dia 05, 83 anos de idade. Mais do que um músico, Bonga é um sentimento. É a voz rouca que carrega nas cordas vocais a história, a dor, a alegria e a alma inquebrável de um povo. Elogiá-lo é elogiar a própria resistência, a melancolia saudosa da morna, o ritmo quente do semba e o pulsar da identidade angolana e africana.
A sua voz não canta, ela é um instrumento de terra e paixão, que sussurra segredos de amor e grita contra as injustiças. Em cada nota, em cada frase, ouvimos o eco das mornas de Cabo Verde, o suingue de Luanda, a luta pela liberdade e a doce amargura da saudade, que acompanha muitos dos angolanos que se encontram na diáspora.
“Bonga Kuenda” não é apenas um artista; é um arquivo vivo de uma memória colectiva que teima em persistir. Ele foi desportista, mas correu atrás de algo maior que medalhas. Usou a sua fama inicial como atleta para ser mensageiro da causa independentista, um acto de bravura que define o homem por trás da música.
Ele é o compositor de hinos que se tornaram a trilha sonora de gerações. “Mona Ki Ngi Xica”, “Soldado Mamã” e “Angola” são monumentos sonoros. Falam de exílio, de amor à pátria, de resistência e da beleza crua da vida africana. São canções que confortam o espírito e acordam a consciência.
“Bonga” é a ponte que liga África e o mundo. Ele elevou os ritmos africanos de expressão portuguesa a um patamar universal, sem nunca lhes tirar a autenticidade , mostrando a expressão profunda e genuína de uma cultura.
“Bonga”, o eterno renovador, que mesmo após décadas na estrada, mantém a chama acesa e a voz, sempre única, a ecoar como um tambor ancestral e um grito moderno. Ele é a essência do que é ser africano com orgulho.