Orgulho de ser livre

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

Cerca de cinco mil soldados dos vários ramos das Forças Armadas Angolanas desfilaram ontem na Praça da República, na Marginal da Praia do Bispo, em Luanda, no acto central das comemorações do 40º aniversário da Independência Nacional.

O desfile foi testemunhado por várias personalidades de Angola e do estrangeiro, entre as quais Chefes de Estado e de Governo da África do Sul, Botswana, Cabo Verde, Congo Brazzaville, Congo Democrático, Guiné-Bissau, Namíbia, Moçambique, Nigéria e São Tomé e Príncipe, mas também os representantes de organizações internacionais como Nações Unidas, União Africana, SADC, CIRGL, CEDEAO e CEEAC.
O desfile teve dois momentos. O primeiro, mais espontâneo e festivo, com a participação de blocos representativos da sociedade angolana, desde trabalhadores de diferentes sectores produtivos, médicos, professores e estudantes, assim como antigos combatentes, viúvas e órfãos de guerra. Também desfilaram zungueiras, jornalistas, artistas e grupos carnavalescos. Menos numeroso, mas bastante animado, desfilou o bloco composto por angolanos que nasceram precisamente a 11 de Novembro de 1975.
O segundo, mais simbólico e evocativo, com a exibição dos diferentes ramos das Forças Armadas Angolanas, incluiu blocos com algumas das divisões especializadas da Polícia Nacional, como a Ordem Pública, Brigada Especial de Trânsito, Polícia de Intervenção Rápida  e Polícia de Guarda Fronteira. O desfile militar foi um dos grandes momentos do acto central das comemorações do 40º aniversário da Independência Nacional. Na Praça da República, os diversos ramos das Forças Armadas desfilaram sob o olhar atento do Comandante-em-Chefe, José Eduardo dos Santos.  Enquanto decorria o desfile eram proferidas palavras de ordem e a que mais ecoou na Praça da República foi: “Aos seus filhos, a Pátria não implora, ordena”. Marchando com notável vigor e sincronia, cadetes, fuzileiros navais, comandos, entre outros, responderam: “ordene, ordene, ordene!”

Rigor nos movimentos

O rigor nos movimentos e a forma compassada como marcharam os militares lustrou o orgulho nacional, como comentaram alguns convidados à cerimónia, ouvidos pela reportagem do Jornal de Angola. Adão Pedro, um antigo combatente que perdeu um dos membros inferiores na guerra pós-eleitoral de 1992, disse que ficou “arrepiado” ao ver a tropa desfilar. “Nunca vi nada assim aqui. Estou emocionado, porque já estive no lugar destes bravos que marcharam, mas hoje procuro servir o meu país de outro jeito”, desabafou.
A jurista Sónia Afonso disse que se sentiu orgulhosa ao ver mulheres marcharem ao lado dos homens, tal como sempre foi, desde a luta de libertação. “Não me lembro de um dia ter ouvido que as mulheres angolanas se furtaram dos deveres patrióticos, pelo contrário, desde os tempos de Deolinda Rodrigues, Lucrécia Paim e outras, algumas ainda vivas, como Luzia Inglês e Rodeth Gil, que lutaram pela liberdade de Angola e dos angolanos”, referiu.
De camisola azul e boina, o pequeno Artur exultava de alegria ao ver a tropa marchar. É estudante do Instituto Médio de Ciências Policiais, com passagem pelo Centro Polivalente Nzoji, instituição que acolhe órfãos de agentes da Polícia Nacional. Momentos antes ele também arrancou aplausos desfilando a cavalo, num pequeno grupo de promessas da Unidade de Polícia Montada. A anteceder o desfile na Praça da República, houve o hastear da bandeira-monumento, ali perto, no Museu de História Militar, um outro momento de grande simbolismo nas comemorações do 40º aniversário da Independência Nacional.
O acto, testemunhado por membros do Executivo, deputados à Assembleia Nacional, oficiais generais e superiores das FAA  e da Polícia Nacional, entidades religiosas e membros do Corpo Diplomático, foi presidido pelo Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que hasteou a bandeira enquanto era entoado o Hino Nacional. A Bandeira-Monumento foi transportada da entrada principal do Museu Nacional de História Militar até ao mastro de 75 metros de altura, sob uma base de 1,5 metros de diâmetro, por um grupo de 34 homens, entre militares e polícias, num período de cerca de dez minutos.
Em declarações ao Jornal de Angola, no final da cerimónia, o secretário de Estado da Cultura, Cornélio Caley, realçou o simbolismo do hastear da Bandeira-Monumento. “A bandeira é um símbolo da unidade nacional e da Pátria e diante da qual devemos todos colocar-nos em sentido. Em resumo, as suas cores representam o heroísmo dos nossos antepassados. O mesmo heroísmo que se pede à juventude”, disse.
Cornélio Caley enalteceu a memória de todos os que se entregaram de corpo e alma para a conquista da Independência Nacional e lamentou que nem todos os que se bateram de armas na mão pela sua conquista tiveram a oportunidade de a presenciar. “A Independência Nacional é a forma de estar dos angolanos, é a ansiedade máxima do povo e das nossas almas”, disse.
Para o chefe do Estado-Maior da Forças Armadas, Geraldo Sachipengo Nunda, o hastear da bandeira, no dia em que os angolanos comemoram 40 anos de liberdade, é uma homenagem ao grupo de heróis destemidos que, triunfantes, deram as suas vidas pela causa da libertação do povo. “É o realizar de um sonho, porque inúmeras vezes se chegou a pensar que tal nunca seria possível”, frisou.

Presidente  Zuma solidário

O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, manifestou a sua satisfação pela comemoração dos 40 anos da independência e recordou o “papel importante” que Angola desempenhou para o fim do regime de apartheid no seu país.  “Os angolanos lutaram muito e ajudaram-nos quando precisámos. Por isso merecem ser felizes e podem contar com os sul-africanos”, disse Zuma, reconhecendo que parte da destruição de Angola, no passado, se deveu ao apoio que prestou aos combatentes da SWAPO e do ANC, que lutavam contra o apartheid. O Presidente da África do Sul considerou a reconstrução de Angola uma das grandes prioridades e garantiu apoio.
O Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, destacou a importância da comemoração do 40º aniversário da independência de Angola, assinalado ontem, com a realização de várias actividades políticas e culturais, das quais o desfile cívico e militar na Praça da República.
“A Independência é o acontecimento mais sublime, nobre e de elevado significado na vida de um povo”, disse o chefe do Governo cabo-verdiano, que foi um dos convidados às comemorações do aniversário da Independência de Angola. Em declarações ao Jornal de Angola, José Maria Neves considerou a comemoração da independência de Angola um acontecimento especial para os angolanos e todos os povos irmãos, como o cabo-verdiano, já que marca o fim da subjugação e o início de uma vida mais digna.  Na sua visão, Angola, depois de 40 anos, transformou-se significativamente e tornou-se um grande país ao nível da África Austral e Central, pelo seu forte contributo para o fim do regime do apartheid na África do Sul e para as independências da Namíbia e do Zimbabwe. Actualmente, acrescentou, está a transformar-se numa importante potência política e económica e espera-se que desempenhe um papel de referência e seja um agente de transformação no continente africano.
A embaixadora do Estados Unidos, Helen La Lime, também saudou o povo angolano pela celebração dos 40 anos de independência. A diplomata entende que um dos maiores desafios de Angola é a diversificação da economia, além da preservação da paz e da reconstrução das infra-estruturas destruídas durante a guerra.  O deputado do PRS, Benedito Daniel, também apelou ao povo angolano para a preservação da independência nacional, por ter sido conquistada com muito sacrifício. “Ela deve ser preservada, porque não nos foi dada. Conquistámos por força do nacionalismo e nossa determinação, por isso é necessário que nos unamos, apesar das diferenças políticas e de opinião”, sublinhou o parlamentar.
Benedito Daniel revelou que estava na Lunda Sul e apenas com 13 anos quando foi proclamada a Independência, mas recorda que o momento foi vivido com muita euforia, apesar de ter estado a acompanhar pela rádio, como a maioria dos angolanos, porque não tinham o privilégio de ter um televisor em casa.
Ao longo dos 40 anos de independência, o deputado reconheceu que muita coisa foi feita e particularizou os sectores da Educação, com um número significativo de alunos no sistema de ensino geral e do subsistema do ensino superior, e na Saúde, com a construção de hospitais de grande dimensão.  Porém, ressaltou, o Executivo deve trabalhar ainda mais para eliminação do analfabetismo e a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde, no sentido de estar à altura das infra-estruturas existentes, que não se encontram em muitos países de África.

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