Íntegra do discurso do Chefe de Estado Angolano em Cuba

PLATEIA, EM HAVANA, OUVINDO O CHEFE DE ESTADO JOÃO LOURENÇO FOTO: CORTESIA DE: AGOSTINHO MOTA AMBROSIO, EDIÇÕES NOVEMBRO

PLATEIA, EM HAVANA, OUVINDO O CHEFE DE ESTADO JOÃO LOURENÇO
FOTO: CORTESIA DE: AGOSTINHO MOTA AMBROSIO, EDIÇÕES NOVEMBRO

 

Íntegra do discurso do Chefe de Estado Angolano, João Lourenço, proferido, segunda-feira, na Universidade de Havana, Cuba.

Havana, 01 de Julho 2019

-Magnifica Reitora da Universidade de Havana,

-Senhores Membros do Corpo Docente da Universidade de Havana,

-Caros Estudantes Universitários,

-Distintos Convidados,

-Minhas Senhoras, Meus Senhores,

Foi com subida honra e grande satisfação que recebi o convite para, durante a minha visita de Estado ao vosso belo país, proferir algumas palavras nesta respeitável e prestigiada instituição de ensino superior.

Esta é uma soberana ocasião para partilhar com todos vós, em especial com os jovens que agora frequentam o ensino universitário, alguns aspectos da gesta heróica entre angolanos e cubanos, na região sul do continente africano.

Nunca é demais recordar que foi o combate conjunto dos nossos dois povos que contribuiu de forma decisiva para contrariar não só a agressão das forças externas que pretendiam pôr em causa a soberania e a integridade territorial de Angola, mas também para acelerar a independência da Namíbia e pôr fim ao regime racista na África do Sul.

Partilhando as mesmas trincheiras e lutando pelos mesmos ideais de liberdade e justiça social, os internacionalistas cubanos com todo o seu fervor revolucionário, constituíram uma importante força de dissuasão contra aqueles que pretendiam impedir a libertação dos povos angolano, namibiano e sul-africano.

A África Austral, que durante décadas foi uma das maiores zonas de conflito do planeta, é hoje uma região completamente livre do colonialismo, com democracia e em franco desenvolvimento económico e social.

O povo angolano ficará eternamente grato aos heróicos combatentes cubanos que tantas vezes com o sacrifício das suas próprias vidas, atravessaram o Atlântico movidos apenas pelo desejo de defenderem os mais elevados valores do ser humano.

Na sequência da famosa e histórica “Operação Carlota”, milhares de cubanos se sucederam durante anos no nosso país, prestando o seu apoio não apenas na área militar, mas em muitas outras frentes, em condições altamente adversas e em zonas de difícil acesso.

Militares, médicos, gestores, professores, construtores e muitos outros profissionais cubanos participaram em Angola na defesa da soberania e da independência nacional, na reconstrução económica e social, na organização da administração do Estado, no ensino, na saúde e na solução de muitos outros problemas derivados da pesada herança deixada pelo colonialismo.

Apesar do bloqueio de que é vítima, numa demonstração inequívoca de que a sua independência e opções políticas continuam a ser mal entendidas, Cuba atingiu níveis altíssimos de qualidade internacionalmente reconhecida, no domínio da educação, da saúde e da investigação científica.

Sem se contentarem em satisfazer o seu próprio povo, e num espírito de grande altruísmo e solidariedade, as autoridades cubanas continuam, tal como no passado, a apoiar os povos que lutam pela sua liberdade e dignidade, enviando os seus melhores quadros de saúde e professores para regiões carentes e em crise.

Gostaria de dizer aos jovens que agora se dedicam aos estudos universitários, que se devem orgulhar de todos os que os antecederam em missões internacionalistas, e de apelar para que mantenham sempre o espírito generoso e solidário que tão bem caracteriza a juventude cubana.

Minhas Senhoras, Meus Senhores,

Referi antes a honra de me encontrar numa das mais importantes universidades da América Latina, voltada para o conhecimento, a ciência e a tecnologia, que tem sabido desenvolver soluções inovadoras em áreas do saber como as ciências naturais, as ciências biomédicas, as artes e humanidades e em muitas outras.

Penso por isso ser de todo o interesse recordar o passado e analisar o presente e o futuro das relações de cooperação entre Angola e Cuba no domínio do ensino e da formação, tanto mais que as relações políticas e diplomáticas entre os dois países, estabelecidas oficialmente em Novembro de 1975, nunca perderam a sua vitalidade.

Neste contexto, é de ressaltar que Cuba respondeu prontamente ao pedido de apoio de Angola para a formação de quadros desde os primórdios da sua Independência. É assim que logo no ano seguinte foi assinado entre os dois países um convénio relacionado com a educação, que mobilizou milhares de professores cubanos para prestarem serviço em Angola.

Com a visão política do Presidente Agostinho Neto que entendeu a necessidade premente da formação de quadros para assegurar o desenvolvimento do país, Cuba acolheu em 1977 o primeiro contingente de angolanos com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos na Ilha da Juventude, continuando os estudos em diferentes universidades, incluindo esta de Havana, onde permaneceram até à sua formação superior em diversas especialidades.

Os benefícios das nossas relações de cooperação no domínio do ensino e da formação de quadros são para nós visíveis nas dezenas de milhares de quadros angolanos formados nas várias áreas do saber como entre outras, na saúde, educação, agricultura, indústria, construção civil, transportes, pescas, geologia e minas, comunicação social, cultura e desportos.

Cuba tem sido até agora o país que mais tem contribuído para a qualificação dos quadros angolanos que se empenham no processo de desenvolvimento de Angola e nunca é demais expressar de forma clara e inequívoca os nossos profundos agradecimentos por esse importantíssimo papel.

Magnífico Reitor,

Minhas Senhoras, Meus Senhores,

O padrão de cooperação entre os nossos países tem-se mantido estável, quer dos docentes cubanos que vão leccionar em Angola, que de angolanos que vêm para Cubas estudar. Na actualidade, essa cooperação tem-se voltado mais para os cursos de graduação e pós-graduação.

Os desafios que hoje se colocam a Angola passam necessariamente pela aposta sistemática na formação de quadros em áreas consideradas estratégicas e prioritárias para o desenvolvimento do país, tendo para o efeito o Governo angolano gizado a Política Nacional de Desenvolvimento de Recursos Humanos, já em fase de implementação.

Pretendemos com essa Política responder ao conjunto de desafios referente à melhoria da qualidade do nosso Sistema de Ensino, que passa por uma formação de professores mais exigente, capaz de garantir que as funções sejam asseguradas por docentes devidamente qualificados e com bom desempenho, uma área em que Cuba tem comprovada experiência e com a qual desejamos contar.

Gostaríamos igualmente de poder formar em Cuba quadros angolanos em áreas críticas, priorizando sobretudo aquelas cuja oferta no nosso país é deficitária ou inexistente, fazendo recurso à oferta existente nas várias instituições cubanas com tradição e qualidade, como é o caso da Universidade de Havana.

Estamos a reformular o nosso Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, dedicando uma atenção especial à formação de doutores e ao desenvolvimento de investigação aplicada às áreas da saúde, agricultura e pescas, indústria, petróleo, gás, recursos naturais, ambiente, energia, telecomunicações e tecnologias de informação e turismo, que são cruciais para a diversificação da nossa economia.

Acreditamos que as pessoas são a maior riqueza que um país pode ter e Cuba é disso um excelente exemplo, pela aposta que faz na formação de quadros e no investimento no conhecimento e na investigação científica.

Magnífico Reitor,

Minhas Senhoras, Minhas Senhores,

Os imperativos actuais de um mundo cada vez mais globalizado e competitivo impõe-nos uma atitude mais afirmativa e valorizadora do conhecimento, da ciência, da inovação e da tecnologia. Para tal, o aprofundamento da cooperação entre as nossas instituições académicas e científicas joga um decisivo papel.

Estamos convencidos de que a promoção de uma maior proximidade e diálogo destas instituições com o sector produtivo asseguram uma maior oferta de emprego e permitem uma maior inserção competitiva dos nossos países na economia internacional.

Assim, o futuro das nossas relações passa pela criação de medidas que possam incrementar a mobilidade dos académicos e investigadores, realizando projectos de investigação conjuntos, orientados para a resolução de problemas das populações e das empresas e para a promoção do emprego científico nos nossos países.

Considero que as relações de amizade e cooperação entre Angola e Cuba são estratégicas e que juntos podemos assumir o compromisso de as elevar para patamares de excelência.

Quero a terminar, desejar a todos os estudantes aqui presentes muitos êxitos nos seus estudos e reiterar, em nome de todo o povo angolano, os nossos agradecimentos pelo papel que Cuba tem desempenhado na formação dos quadros angolanos.

Os nossos países estiveram juntos no combate pela independência, liberdade, desenvolvimento e progresso social da África Austral, juntos podemos continuar a construir um futuro melhor para os nossos povos.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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