Cultura em reflexão
A actual situação das artes e dos criadores, as medidas para promover a angolanidade, na era da globalização, são as principais perspectivas e metas em análise hoje, Dia da Cultura Nacional.
Para celebrar a data, a ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, chegou, ontem a Mbanza Congo, onde acontece, hoje, a partir das 9h00, o acto central, no Largo António Agostinho Neto.
Rosa Cruz e Silva, que foi recebida pelo governador do Zaire, Joanes André, visitou sítios históricos de Mbanza Congo, com destaque para o túmulo de Dona Mpolo, a mãe do rei Mvemba Nzinga, baptizado como D. Afonso I.
A ministra visitou o histórico convento Tadi dia Bukikua, o local onde eram embalsamados os reis, Mpindi a Tadi, o Museu dos Reis do Congo e a primeira igreja católica construída na África subsariana, Kulumbimbi.
Durante a visita, a ministra disse à imprensa que a data é celebrada este ano tendo em conta o discurso do Presidente António Agostinho Neto, proferido na União dos Escritores Angolanos, no qual destacou a importância da valorização das artes e da cultura nacional.
“O objectivo é cumprir as acções incluídas no Plano Nacional de Desenvolvimento sobre o fomento das artes e da cultura por todo o país”, disse a ministra. E acrescentou que a data serve ainda de homenagem a todos aqueles que deixaram um legado a favor da cultura e da identidade nacional. A ministra manifestou ainda o seu desejo de ver Mbanza Congo como património da Humanidade e reforçou a importância da sua candidatura ser entregue antes do final deste mês.
“Queremos entregar o dossier com a convicção de termos cumprido todos pressupostos exigidos pela UNESCO. Esta é a primeira candidatura desta região de África, daí que as responsabilidades de Angola são acrescidas”, referiu.
Para a ministra da Cultura, os benefícios da elevação de Mbanza Congo a património mundial da UNESCO é um passo decisivo na divulgação da identidade nacional além fronteiras. Um outro ganho, prosseguiu, vai ser o desenvolvimento do turismo cultural. “Só podemos apresentar o dossier, se formos capazes de garantir a preservação do património”, notou.
A ministra inaugurou, ontem, uma exposição fotográfica sobre o projecto “Mbanza Congo Cidade a Desenterrar para Preservar” e uma feira de arte e cultura. Hoje é inaugurada a nova sede da Direcção Provincial da Cultura.
Património da Humanidade
O especialista cabo-verdiano ao serviço da UNESCO, Charles Akibodé, disse ao Jornal de Angola que incluir Mbanza Congo na lista do Património Mundial da Humanidade é uma questão de justiça, para com a região que foi a capital de um dos maiores reinos do continente africano. Para o especialista, Mbanza Congo era na Idade Média um importante centro comercial tradicional, com uma organização territorial extraordinária. Lembrou que para a organização do vasto reino, que se estendia por quatro países, Angola, Gabão, RDC e Congo Brazzaville, os reis, residentes em Mbanza Congo, precisavam de ter conhecimentos avançados, do ponto de vista económico, social, antropológico, incluindo técnicas de administração do território.
Cultura mundial
A candidatura é uma oportunidade de repor a verdade e ser justo para com o Povo Angolano. Na então cidade de São Salvador do Congo, capital de um vasto reino, estabelecido no coração de África na Idade Média, existia uma civilização importante e muito avançada na época. “O reino estendia-se desde o Norte de Angola, no rio Congo, até a Sul do rio Cuanza, a leste o rio Cuango e a Noroeste e ao oceano Atlântico”, disse o especialista.
A preocupação dos especialistas africanos actualmente, destacou, é colocar África no centro do Património Mundial da Humanidade, na perspectiva cultural. Para tal, disse, existe o desafio dos próprios angolanos reconhecerem que participaram na construção da cultura mundial.
Charles Akibodé disse que hoje o mundo global experimenta um conjunto de riquezas imateriais, cuja origem é do “Congo”, de Mbanza Congo, em particular na arte culinária, na dança, música, ou na própria religião.