Comissários de bordo “desafiam” Covid-19 em voos especiais

ASSISTENTES DE BORDO (PESSOAL NAVEGANTE DE CABINE), PROFISSIONAIS INDISPENSÁVEIS EM VOOS COMERCIAIS, CELEBRAM MUNDIALMENTE 90 ANOS DE ACTIVIDADE
FOTO: LUCAS NETO
Habituados a viajar com regularidade, pelo menos uma vez por semana, dependendo da escala e/ou demanda, o Pessoal Navegante de Cabine, também conhecidos como comissários (os homens) e aeromoças (mulheres) vêem essa paixão “coartada” pela covid-19.
À semelhança de profissionais de outras áreas, mormente as relacionadas com actividades imprescindíveis em períodos de crise, esses aeronáuticos estão limitados, nesta época de isolamento social, a trabalhos excepcionais, para o caso concreto voos especiais, sob riscos.
Assim, desde Dezembro de 2019, com o despoletar do novo coronavírus (covid-19), na cidade chinesa de Wuhan, somente um grupo restrito dessa classe trabalhadora continua a viajar, a nível mundial, “atrelados” em voos humanitários quer de mercadorias quer de passageiros.
Isso, está a fazer com que o Dia do Pessoal Navegante de Cabine, celebrado internacionalmente hoje, dia 31 de Maio, passe despercebido, dada à pandemia, que praticamente paralizou o Mundo, com milhares de infecções e de mortes, forçando a suspensão da actividade aérea.
Segundo um balanço da agência noticiosa francesa AFP, até às 20h15 GMT de sexta-feira (dia 30), a doença causada pelo novo coronavírus havia já infectado mais de seis milhões de pessoas em todo o mundo (em 196 países), dois terços das quais na Europa e Estados Unidos.
Os dados apontam para 6.000.867 casos de contaminação oficialmente diagnosticados, com pelo menos 366.848 mortes registadas. A Europa é o continente mais afectado, com 2.135.170 casos (177.595 mortes), e os EUA são o país com mais infectados (1.760.740) e mortes (103.472).
Sobre essa matéria, Angola regista, até à presente data, 84 casos positivos, dos quais quatro óbitos, 18 recuperados e 62 activos, com um paciente que carece de cuidados especiais. Entre os infectados constam duas crianças de um bebé de dois meses de idade.
Em virtude desses números e da rápida e contínua propagação da doença, milhares de empresas de vários ramos em todo o Mundo, incluindo esse país da África Austral, encerraram as actividades, afectando fortemente as economias nacionais e global, com o sector da aviação civil a registar perdas incalculáveis.
A propósito, nos finais de Abril, a Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA, sígla em inglês) reviu em alta a previsão de perdas para as companhias africanas, estimando agora uma quebra de seis mil milhões de dólares e a perda de metade dos empregos devido à pandemia.
Em Angola
Com a cerca sanitária nacional e internacional, a companhia nacional de bandeira, a única comercial sobrevivente, está autorizada apenas a realizar voos humanitários e a transportar mercadorias, no quadro da prevenção e combate à pandemia.
Assim, na sequência do encerramento das fronteiras, por força da covid-19, a TAAG deixou de realizar, em média, 32 voos por dia, dos quais 15 internacionais e 17 domésticos, todos consubstanciados no transporte de passageiros, com prejuízos na ordem dos 70 a 80 por cento.
como em outras partes, em Angola, o Pessoal Navegante de Cabine (PNC) também está limitado a viajar, esporadicamente, em voos homanitários ou especiais excepcionais, uma tarefa exclusiva da companhia nacional de bandeira, a TAAG, que rompe fronteiras nacionais e internacionais.
Eis então que, acometidos pelo novo coronavírus, esses profissionais passaram a movimentar em serviço, pela necessidade de a TAAG ter de resgatar angolanos retidos no exterior e de transportar as 380 toneladas de equipamentos de biossegurança da China para Angola.
Sem concorrência, essa operadora tem estado também a distribuir médicos e equipamentos de biossegurança pelas 18 províncias do país, com os assistentes de bordo a garantirem o conforto e segurança dos passageiros, particularmente técnicos envolvidos no combate à covid-19.
Contudo, em Angola, a efeméride é “coroada” com uma sucessão de ameaças de greve, desde Janeíro, por parte do Sindicato do Pessoal Navegante de Cabine (SINPROPNC) da TAAG – Linhas Aéreas de Angola, em reinvindicação a não actualização dos subsídios de horas de voos.
Desde então, os sindicalistas reclamam também pela manutenção do regime de disponibilidade e defendem a melhoria das regalias sociais e revisão do regime de facilidade de bilhetes de passagem, bem como das condições de trabalho e a humanização das escalas.
No entanto, o SINPROPNC, que aguarda por soluções difinitivas até Julho, comprometera-se em assegurar a prestação dos serviços mínimos indispensáveis e outros que em função das circunstâncias concretas e imprevisíveis venham a mostrar-se também imprescindíveis.
Enquanto isso, em pleno dia de celebração do PNC, a SonAir encerra, a partir de hoje (dia 31), as operações de voos domésticos em aeronaves do tipo Beechcraft 1900 D, para as rotas Luanda/Soyo/Luanda; Luanda/Cabinda/Luanda, e os voos interprovinciais entre Soyo e Cabinda.
Criada a 16 de Fevereiro de 1998 em Luanda , a SonAir é uma das subsidiárias do Grupo Sonangol, tendo como “core business” apoiar a indústria do petróleo. Além dos voos domésticos a SonAir cobre a rota Luanda-Houston, chamado “Houston Express”, operado pela Atlas Air
Origem da data e designação oficial
Embora neste ano de 2020, este confrontado com a inédita covid-19, o Dia Internacional do Pessoal Navegante de Cabine é celebrado mundialmente desde 1930 por reivindicação de Ellen Church, apaixonada por aviação mas impossibilitada de pilotar uma aeronave por ser mulher.
Pelo facto, a enfermeira sugeriu, à Boeing Air Transport, na altura, que colocasse enfermeiras a bordo dos aviões para cuidar da saúde e segurança dos passageiros durante o voo, devendo as mesmas serem solteiras, sem filhos e obedecerem a um padrão de peso e altura.
A ideia fez muito sucesso, pois as mulheres a bordo passavam segurança aos passageiros, já que pessoa desse sexo era considerada uma figura de fragilidade, e tendo mulheres a trabalhar durante o voo passava-se a mensgem de que o avião não era tão perigoso quanto se pensava.
Reza a história que devido a Segunda Guerra Mundial, as enfermeiras foram convocadas para os campos de batalha, pelo que as companhias aéreas então começaram a colocar mulheres de nível superior a bordo, em representação da marca, sem contudo perder o charme e a elegância.
Com o andar do tempo, a profissão popularizou-se e perdeu o símbolo sensual que possuía. Foi então que surgiu o “aeromoço”, já que as funções do comissário aumentaram devido ao crescente fluxo de passageiros, o que exigia mais do profissional.
A nível da aviação comercial, o Pessoal Navegante Comercial (PNC) ou Pessoal de Cabine (PC) constitui o grupo de profissionais que actua nas cabines de passageiros das aeronaves, assistindo-os, garantindo o seu o conforto e zelando pela sua segurança.
Genericamente, os profissionais do PNC são designados “comissários de bordo”, “comissãrios de voo” ou simplesmente “comissários”. Quando do sexo feminino, o/a profissional é, formalmente, tratado por “comissária”, “assistente”, “aeromoça” ou “hospedeira do ar”, dependendo do país.
Em rigor, integra a tripulação de um avião comercial, juntamente com o pessoal navegante técnico (pilotos, navegadores e técnicos de voo), que há 90 (desde a instituição da data) assegura interligação do mundo, promove a cultura entre povos, a troca comercial e a cooperação entre Estados.