Começa uma nova etapa nas relações com França

Fotografia: Divulgação

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O Chefe de Estado chega hoje à noite a Paris para uma visita de 24 horas considerada o início de uma nova etapa das relações entre Angola e França. O ponto mais alto da visita é amanhã, quando os Presidentes José Eduardo dos Santos e François Hollande se reunirem no Palácio do Eliseu.

É um encontro histórico se atendermos ao passado recente das relações entre Luanda e Paris, enevoado com o caso “Angolagate”.

As implicações negativas do caso nas relações entre Paris e Luanda ficaram vincadas no comunicado feito pelo Governo angolano, em Abril de 2011, quando foi proferida a sentença pelo tribunal de apelação francês. “Esta sentença encerra efectivamente mais de dez anos de mal-entendidos, durante os quais a República de Angola não cessou de fazer valer os seus direitos e prerrogativas na defesa dos seus interesses.”

O Governo angolano, referia o comunicado, “nunca compreendeu a razão de a República de Angola ter sido posta em causa pelas instâncias judiciais da França, um país com o qual mantinha na altura as melhores relações de amizade e cooperação”.

François Hollande recebe José Eduardo dos Santos no Palácio do Eliseu, no que se espera venha a ser um marco nas relações entre os dois países. A historiadora Maria da Conceição Guimarães Legot considera o encontro um “ponto de convergência que marca a vontade dos dois Estados em consolidar as relações bilaterais”.

Cooperação com Paris

Formada em História pela Universidade de Paris 1 Sorbonne, Maria Legot vive em França há 50 anos e acompanha de forma atenta os mais recentes desenvolvimentos na cooperação entre Paris e Luanda.

“Este reforço teve um preâmbulo com a visita do ministro Georges Chikoti a Paris, em 2012, durante a qual foi recebido pelo presidente da Assembleia Nacional e pelos ministros do Interior e da Cooperação, e que foi retribuída em 2013 com a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros francês a Luanda”.

Para Maria da Conceição Guimarães Legot abre-se agora uma nova perspectiva na cooperação bilateral que se traduz em projectos que estão em curso, como a Escola Superior de Tecnologia Agroalimentar em Malanje, com o apoio da Cooperação Francesa, através dos serviços de cooperação e de acção cultural da Embaixada de França em Angola.

Angola pagou um preço

Para a historiadora a trajectória das relações entre Angola e França sofreu a influência da Guerra Fria, pois, como disse, a divisão do mundo em dois blocos e o jogo de influências entre as duas superpotências mundiais de então reflectiu-se nas relações entre Luanda e Paris.

“Angola está fora do contexto dos países com quem o Ocidente teve relações porque bateu-se sempre pela sua soberania. Depois da conquista da independência, Angola mergulhou numa guerra fratricida. E sendo um país com grandes perspectivas, as potências sempre quiseram tornar Angola subserviente. Mas Angola defendeu sempre a sua soberania e integridade territorial e pagou o preço por isso”, salientou a historiadora Maria da Conceição Guimarães Legot.

Além do encontro com o Presidente François Hollande, no Palácio do Eliseu, o Chefe de Estado angolano vai ser recebido na Assembleia Nacional pelo presidente do Senado.

Ainda para amanhã, está também previsto um fórum económico com algumas das grandes empresas francesas das diferentes áreas, e uma recepção ao Corpo Diplomático acreditado em França e personalidades da sociedade francesa.

Investimentos

Os investimentos franceses em Angola representam dez milhões de dólares, disse em Paris o economista financeiro angolano Felicio Manu, em declarações à imprensa angolana, no âmbito da visita oficial do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Na base deste valor, o especialista financeiro disse estar, em 95 por cento, as transacções realizadas pela petrolífera francesa Total. Os restantes cinco por cento repartem-se pelas empresas do ramo das telecomunicações Alcatel e a de prestação de serviços portuários  Bouloren.

“O intercâmbio comercial entre França e Angola ainda é bastante reduzido. O país europeu representa cerca de 6.3 por cento do mercado global angolano. Trata-se, essencialmente, de intercâmbio feito no sector dos petróleos e de derivados”, salientou.

O economista angolano, residente em França desde 1977, disse que os dados em que sustenta a sua afirmação mostram haver um espaço de crescimento e de conquista de mercado muito importante em Angola.

Para que o mercado interno angolano continue a atrair investimentos, o economista financeiro Felicio Manu defendeu a criação de relações políticas e diplomáticas sustentadas na confiança, o que vai levar a que os empresários optem por Angola.

Num contexto de crise, prosseguiu, a Franca necessita de conquistar mercados em países emergentes, entre os quais está Angola.

Felício Manu considerou que Angola representa uma oportunidade extraordinária para as empresas francesas, fora do domínio petrolífero, particularmente no agro-alimentar, transportes e serviços.

Cultura alimentar

Os principais pratos da gastronomia angolana fazem os encantos e as delícias da comunidade africana e latino-americana em Paris.

Os pratos são confeccionados pela angolana Natália de Brígida Neto, que abriu há sete anos o restaurante Mamã Muxima de Angola, que também promove a música angolana.

A empresária disse à comunicação social angolana que em Paris prepara a cobertura da visita oficial do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que os primeiros anos foram difíceis.

“Valeu-me a experiência acumulada durante os anos em que trabalhei na Euro Disney/Disneylandia de Paris”, salientou Brígida Neto que optou por Paris em 1998. Entre os pratos confeccionados pelo restaurante estão a machanana, cacusso, fumbua, feijão de óleo de palma, kizaca de muamba de ginguba, funje, mufete e macaiabo.

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