Comboio de luxo “atravessa” Angola

Comboio turístico Rovos Rail
FOTO: DAVID DIAS
05 Agosto de 2019 | 15h59 – Actualizado em 06 Agosto de 2019 | 11h56
Há 30 exactos anos, a história da Rovos Rail repete-se. Desde 1989, a companhia sul-africana promove o turismo ferroviário, cruzando a Costa Africana, o seu destino predilecto.
Projectados para chegar às zonas de difícil acesso, como reservas de caça apenas acessíveis por pequenos aviões, trem ou veículos de safari, são meios de transporte de autêntica promoção turística, que encantam pela sua imagem interior.
Os comboios privados da Rovos Rail já atravessaram os carris de várias cidades africanas, fazendo rotas históricas como Cidade do Cabo – Dar-es-Salaam (Tanzânia), Pretória – Swakoopmund (Namíbia) e Cidade do Cabo – Cairo (Egipto).
São carruagens que cruzam o continente africano e têm aceitação em várias paragens, mas só neste ano “atravessaram” as linhas do Caminho-de-Ferro de Benguela (Angola).
A vinda ao país representou o corolário de um projecto iniciado há quase cinco anos.
Foi a 26 de Julho que o apito do comboio soou em Angola, depois de pequenos percalços no troço Dilolo (República Democrática do Congo – RDC) – Luau (Angola). Em oito dias, vinte e uma carruagens cruzaram o país, por via do CFB, com 51 turistas que se mostraram encantados com a diversidade turística local.
A expedição, que partiu da Tanzânia e passou pela Zâmbia e RDC, cruzou Angola, levando os turistas, além do Moxico, às províncias do Bié, Huambo e de Benguela. Do município do Luau (porta de entrada), província do Moxico, ao Lobito (última etapa da expedição), província de Benguela, foram percorridos 1.334 quilómetros de carris.
O comboio de luxo percorreu, em solo angolano, cerca de 64 estações ferroviárias. Tratou-se de uma viagem épica para quem, habituado ao conforto dos países do 1.º Mundo, andou mata a dentro, para conhecer e explorar a natureza angolana.
Com o luxuoso comboio, os turistas atravessaram povoações que nunca pensaram encontrar nos mapas. Passaram pelo Moxico, Bié, Huambo e Benguela, onde foram calorosamente recebidos pelas populações e autoridades locais.
Em cada povoação por onde passavam, ficou evidenciada a força da cultura local, com danças tradicionais, música, teatro e canto coral de diferentes matrizes. No Moxico, por exemplo, visitaram locais históricos e turísticos, tais como a Sé Catedral da Igreja Católica e o Parque Nacional da Cameia. O referido parque, situado a 125 quilómetros da cidade do Luena, foi primeiro estabelecido em 1935, como reserva de caça, e elevado a parque nacional em 1957.
Ocupa uma superfície de 14.450 quilómetros quadrados das vastas planícies de inundação sazonal na Bacia do Zambeze. Tem uma rede hidrográfica densa, constituída pelos Rios Luena, Luangueje e pelas Lagoas Cauamba, Calundo e Chaluvanda.
Alberga diversas espécies de mamíferos, particularmente antílopes. A grande fauna do parque é constituída, principalmente, por animais como leão, hiena malhada, leopardo, chita, hipopótamo, potamochero, palanca vermelha, songue, nunce, cacu, oribi, sitatunga e tchikolokossi.
De igual modo, os turistas passaram pelo Monumento da Paz, uma infra-estrutura que simboliza a harmonia entre os angolanos, depois de quase 27 anos de guerra civil.
Já no Bié, os ocupantes do Rovos Rail visitaram o Comando da 4.ª Divisão de Infantaria (património histórico) e o Espelho de Água, no largo da administração do governo local.
“Era importante visitar o Quartel da 4.ª Divisão”, comenta o historiador sul-africano e guia turístico da Rovos Rail, Nicholas Shofield, justificando que o Bié registou intensos combates.
“Vou fazer um panfleto sobre a história do Bié, quando regressar ao meu país, para ajudar a guiar os turistas, nas próximas viagens previstas para 2020-2021″, anuncia. A visita àqueles locais representou, para as autoridades da província, um passo marcante no processo de afirmação do país e de promoção da sua imagem no mundo.
“Com esta visita, novas portas abrir-se-ão para o desenvolvimento do turismo no país”, expressa o governador local, Pereira Alfredo, que encorajou os turistas a explorarem os enormes recursos locais.
Quem também aplaudiu a iniciativa dos turistas foi o estudante Isaac Hulo. “Foi interessante a visita”, diz, esperando um dia ter a sorte de viajar no Rovos Rail, para visitar a RDC, a Zâmbia e a Tanzânia. A próxima parada da expedição foi o Huambo, onde os turistas foram recebidos com um espectáculo cultural e se mostraram encantados.
Para Nicholas Shofield, foi interessante ver retratada a historia que envolvia soba, amor tradicional, bem como as indumentarias e coreografias de danças originais do Huambo. ”A maioria dos turistas é reformada e vai poder, quando estiverem em casa, na Suécia, África do Sul, Estados Unidos da América e Inglaterra, transmitir a história, a cultura e a beleza do país”, afirma.
No Huambo, visitaram o bairro da Chiva e apreciaram quatro blindados usados durante a guerra civil em Angola, iniciada em 1975 e terminada a 4 de Abril de 2002.
O clima de paz encontrado na região alegrou os visitantes, em particular a sueca Dina Hermelin. “Tenho muitos amigos na Suécia a quem vou contar o que vi e convidá-los a visitar Angola, país fantástico. Estou emocionada”, declara.
Sentimento idêntico teve a holandesa Gerda Van Konijuenburg, nascida em 1937, antes do início da II Guerra Mundial (decorrida de 1939 a 1945). ”Não é fácil reconstruir um país que esteve em guerra”, declara, sublinhando que ficou orgulhosa por ver o clima de paz efectiva em Angola.
Quem não tem dúvidas do sucesso desta passagem turística é a governadora Joana Lina, que solicitou a vinda de mais turistas ao Huambo, sobretudo para investir no turismo.
Depois do Huambo, os turistas rumaram à província de Benguela, onde pernoitaram no município do Cubal, antes de partir para a cidade ferro-portuária do Lobito.
Na cidade de Benguela, visitaram algumas infra-estruturas históricas, em particular a Sé Catedral, ou seja, a mais imponente instituição religiosa da província.
Trata-se de um edifício sui generis, construído no início dos anos 70, com linhas muito directas, formas esguias e betão à vista, muito moderno para a época (anos 70).
Ainda em Benguela, visitaram o Palácio do Governo e a Praia Morena, um dos principais “cartões postais” da conhecida Cidade das Acácias Rubras.
A Praia Morena é um lugar privilegiado de diversão e relaxamento, considerada por alguns estudiosos como lugar de espectáculos de caminhadas e correrias.
Benguela foi o ponto final de uma aventura que entrou para a história, deixando, entre os ocupantes do comboio, um misto de emoção, saudade e vontade de regressar.
Nesta primeira missão, nada ficou efectivado, em termos de investimentos ou negociações, mas ficou uma certeza: há intenção de investir no turismo angolano.
“Estou impressionado com o que vi, sobretudo no Huambo. Além do potencial turístico, vi demonstrações culturais convidativas, de tal sorte que, ao chegar à África do Sul, a primeira coisa que farei será transmitir as maravilhas que Angola tem”, enfatiza o proprietário do comboio, Rohan Vos.
Os dados estão lançados e, enquanto os visitantes retratam ao mundo as maravilhas constatadas em Angola, um compromisso fica, desde já, assumido: o Rovos Rail estará de volta em 2020.