China pode estimular diversificação em África

Fotografia: Nicolau Vasco

Fotografia: Nicolau Vasco

As mudanças em curso na economia da China podem ser uma oportunidade para países africanos que exportam sobretudo matérias-primas e petróleo se adaptarem e diversificarem as exportações ou subir na cadeia de valor, disse ontem o Trade Law Centre for Southern Africa.

A China, principal parceiro comercial africano, tem registado um abrandamento económico e as autoridades querem que o “motor” do crescimento nos próximos anos seja não o investimento mas o consumo interno, o que pode afectar a procura externa, e em particular na África Subsaariana, explica o relatório “China Africa Trading Relationship” do Trade Law Center for Southern Africa.
“À medida que a procura interna chinesa muda de bens de investimento para consumo doméstico e, implicitamente, passa para os serviços, os exportadores de alimentos e de serviços podem ganhar com a alteração”, refere a análise de Março do “China Africa Trading Relationship”.
A mudança permite compensar o impacto da redução da procura por importações africanas e da quebra dos preços de matérias-primas, que deve ter um impacto negativo nos preços globais deste tipo de bens, afectando os termos de troca.
“É imperativo para os países africanos diversificar exportações ou subir na cadeia de valor”, refere o documento, citado pela agência Macauhub. Angola, que tem no petróleo a principal fonte das  exportações e base da  economia, está entre os países onde são mais visíveis os esforços para diversificar exportações, na sequência da quebra de receitas relacionada com a descida do preço do petróleo, desde meados de 2014.
O aumento das trocas chinesas com África – para 221,5 mil milhões de dólares em 2014, mais de 20 vezes o registado em 2001 – foi impulsionada “pela grande factura da importação de petróleo, sobretudo de Angola”, refere o Trade and Law Center. Dados da UN Comtrade (“United Nations Commodity Trade Statistics Database”) relativos a 2014 colocam Angola como a segunda maior fonte de importações chinesas em África, com 27 por cento do total, atrás da África do Sul (39 por cento), e quinto maior destino de exportações, com seis por  cento.
Após o último Fórum para a Cooperação China-África, em Joanesburgo, a 4 e 5 Dezembro de 2015, o economista Mark Bohlund defendeu, em artigo na Bloomberg Intelligence, o abrandamento na China como mais um “solavanco” para os países africanos. A quebra dos preços do petróleo, defendeu, resulta mais do aumento da produção nos Estados Unidos do que de uma redução de importações da China, cuja economia continua a crescer, a partir de uma base mais elevada.
A redução dos níveis de investimento, adianta, reflecte sobretudo a desvalorização de alguns activos mineiros e “o investimento financiado por dívida é muito mais importante para África do que o IDE” e deve  continuar a crescer à medida que a China expande a abrangência dos seus projectos de financiados no continente.
“O investimento chinês em infra-estruturas na África a Sul do Saara deve com maior probabilidade aumentar do que descer”, tendo em conta as transferências do banco central da China para o Banco de Exportações e Importações (ExIm) da China (45 mil milhões de dólares) e do Banco de Desenvolvimento da China (48 mil milhões de dólares), em Julho de 2015, para financiar a estratégia da Nova Rota da Seda, aponta Bohlund.
As autoridades chinesas dizem que, mesmo no actual contexto de abrandamento, o investimento em África vai ter  maior intensidade.
Li Yifan, embaixador chinês na Etiópia, afirmou à agência financeira Reuters, a 15 de Março, que os países africanos podem  ser “o local ideal” para investimentos de empresas que “impulsionaram a expansão das infra-estruturas chinesas nos últimos 30 anos”, numa altura em que a  economia doméstica abranda e a China olha mais para o estrangeiro.
“Apesar de todas as dúvidas, posso partilhar que na China os departamentos de governo relevantes, bancos de desenvolvimento, companhias de seguros estão a abordar os seus parceiros africanos para tornar este grande plano uma realidade”, afirmou Li Yifan.

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