Campanha para a ONU em Luanda
Três candidatas ao cargo de Secretária-Geral das Nações Unidas estão em Luanda em busca de apoio para a eleição. Irina Bokova, Suzana Malcorra e Christiana Figures foram ontem recebidas em separado pelo Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, e tiveram encontro de trabalho com o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti.
A garantia do desenvolvimento sustentável, o combate à pobreza e dar mais oportunidade aos jovens, são as principais linhas de força da candidata búlgara ao cargo de Secretária-Geral das Nações Unidas.
Irina Bokova, que antes de se candidatar ao cargo de Secretária-Geral da ONU ocupava o cargo de directora-geral da UNESCO, veio a Luanda para pedir o apoio de Angola para a sua eleição.
“Não é primeira vez que cá venho. Já estive por duas vezes, na minha qualidade de director-geral da UNESCO. Desta vez, a oportunidade foi para pedir o apoio de Angola à minha candidatura ao cargo de Secretário-Geral das Nações Unidas”, disse a candidata da Bulgária, para quem o encontro com o Vice-Presidente angolano serviu para partilhar ideias, visões e experiências.
“Estou consciente de que este é um processo complicado, mas Angola desempenha um papel importante no seio do Conselho de Segurança. Expressei as minhas ideias sobre paz, segurança e desenvolvimento, não só em Angola, mas também em África”, contou, referindo-se ao encontro com Manuel Vicente.
Caso seja eleita, Irina Bokova, de 64 anos, promete promover a paz e segurança, o desenvolvimento sustentável, a luta contra a pobreza e trabalhar mais para que se criem oportunidades à juventude, principalmente em África, um continente muito jovem. As reformas no Conselho de Segurança das Nações Unidas foram outro assunto abordado durante o encontro com o Vice-Presidente da República. Para Irina Bokova, há necessidade de democratizar o próprio Conselho de Segurança, mas ela sublinhou que este não é um assunto a ser decidido pelo Secretário-Geral da ONU. “Há discussões em Nova Iorque sobre a necessidade de haver mais representantes no Conselho de Segurança, sobretudo de África. É uma questão que também é discutida dentro dos países membros, mas não é algo que o Secretário-Geral decide. Apenas pode influenciar ou dar iniciativa ao processo”, disse.
Candidata argentina
Logo a seguir ao encontro com Irina Bokova, o Vice-Presidente da República recebeu igualmente em audiência a ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Suzana Malcorra, também ela candidata a Secretária-Geral das Nações Unidas. Suzana Malcorra, que diz contar com o apoio de Angola para a sua eleição ao cargo, disse ter conversado com o Vice-Presidente sobre a sua carreira nas Nações Unidas, a visão que tem sobre África e a importância do continente na ONU.
De 62 anos e funcionária das Nações Unidas desde 2004, tendo chegado ao posto de directora do gabinete do Secretário-Geral cessante da organização, Ban Ki-moon, não descura a promoção da paz e segurança mundial, mas aponta a segurança alimentar como uma das suas principais apostas, caso seja eleita. “Creio que na agenda de desenvolvimento sustentável vêm definidos os objectivos, tanto para África, como para América. Diria mesmo para todos os países que pretendem acelerar o seu desenvolvimento. No entanto, particularmente, há uma área que me interessa: a do desenvolvimento agrícola”, disse a candidata da Argentina, para quem a sustentabilidade de África passa muito pela segurança alimentar. Malcorra realçou que a Argentina é um país que exporta, actualmente, alimentos para 400 milhões de pessoas, quando aquela país da América do Sul conta com apenas 40 milhões de cidadãos. “Temos muito a compartilhar”, referiu.
As duas audiências foram presenciadas pelo ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, e pelo embaixador de Angola junto das Nações Unidas, Ismael Martins. Ainda ontem, Irina Bokova e Suzana Marcorra foram recebidas pelo chefe da diplomacia angolana.
Georges Chikoti disse que o papel de Angola é o de encorajar os candidatos, pois todos estão em condições de receberem os votos dos Estados-membros das Nações Unidas.
Candidata da Costa Rica
No fim da tarde, o Vice-Presidente da República recebeu igualmente a secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações para as Alterações Climáticas, a costa-riquenha Christiana Figures, que também concorre ao cargo de Secretária-Geral da ONU.
Questionada sobre se contava com o apoio de Angola para a sua eleição, a candidata da Costa Rica foi peremptória: “o voto é secreto e respeito muito isso”. Christiana Figures afirmou no entanto que, caso seja eleita, vai transmitir a sua experiência na construção e fortalecimento do processo multilateral diplomático, acumulada nos últimos seis anos nas Nações Unidas.
Figures realçou o facto de ser originária de um país em vias de desenvolvimento e defendeu que o substituto de Ban Ki-moon seja alguém com esse requisito. “Venho de um país em desenvolvimento e entendo muito bem as dificuldades desse tipo de países. Parece-me que seria importante que a próxima Secretária-Geral da ONU tenha isso no seu espírito e coração, independentemente da sua nacionalidade”, sustentou a diplomata costa-riquenha
A candidata defendeu igualmente que os temas que levam ao conflito sejam prioridades nas discussões, sobretudo em África. Entre estes temas apontou a guerra contra o terrorismo, a desertificação e a falta de comida e água.
Christiana Figures exprimiu a sua gratidão pela disponibilidade do Vice-Presidente da República, bem como do ministro das Relações Exteriores e do embaixador de Angola junto da ONU, que também assistiram ao encontro. A costa-riquenha informou que está num périplo pelos países africanos membros do Conselho de Segurança. Antes de Angola, esteve em Dakar, Senegal. Também está a visitar algumas missões de paz das Nações Unidas. Já esteve no Mali e na República Democrática do Congo, com o objectivo de entender, no detalhe, alguns aspectos dessas missões de paz. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas supervisiona 19 operações de paz, a maioria das quais em África. Figures sublinhou ainda que 80 por cento das tropas das missões das Nações Unidas são de países africanos, razão pela qual, disse, África é o continente mais importante para o Conselho de Segurança.
“Antes da eleição do novo Secretário-Geral das Nações Unidas, quis vir a África para me inteirar da realidade no terreno, para melhor trabalhar com os membros do Conselho de Segurança”, disse.
Concorrentes
Concorrem ao posto de Secretário-Geral da ONU 11 candidatos, depois da desistência da candidata da Croácia, a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros e vice-primeira-ministra Vesna Pusic.
As outras senhoras na corrida são a antiga primeira-ministra da Nova Zelândia e administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Helen Clark, a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros e vice-primeira-ministra da Noldávia, Natália Gherman, e a secretária da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, a costa-riquenha Christiana Figueres.
O português António Guterres foi o primeiro candidato ao cargo de Secretário-Geral das Nações Unidas a deslocar-se a Luanda para pedir o apoio de Angola. Isso aconteceu em Março deste ano. No mês passado foram dois, designadamente a antiga chefe do Governo da Nova Zelândia, Helen Clark, e o vice-primeiro-ministro da Eslováquia, Miroslav Lajcak.