Angola é exemplo na diversificação

Fotografia: João Gomes

Fotografia: João Gomes

Angola, que tem no petróleo a principal fonte das suas exportações e base da sua economia, está entre os países onde são mais visíveis os esforços para diversificar exportações, na sequência da quebra de receitas  devida à descida do preço do petróleo, disseram analistas sul-africanos citados ontem na imprensa da China.

O aumento das trocas chinesas com África – para 221,5 mil milhões de dólares em 2014, mais de 20 vezes o registado em 2001 – foi impulsionado “pela grande factura da importação de petróleo, sobretudo de Angola”, refere uma análise do Trade and Law Center.
Dados da do serviço de estatística do comércio de matérias-primas das Nações Unidas (UN Comtrade) relativos a 2014 colocam Angola como a segunda maior fonte de importações chinesas em África, com 27 por cento do total, atrás da África do Sul (39 por cento), e quinto maior destino de exportações, com seis por cento.

Novas oportunidades

A análise conclui que as mudanças em curso na economia da China constituem uma oportunidade para exportadores africanos de matérias-primas e petróleo, caso se adaptem e diversifiquem as vendas ao estrangeiro.
A China, principal parceiro comercial africano, regista um abrandamento económico e as autoridades querem que o “motor” do crescimento nos próximos anos seja o consumo interno, o que afecta  a procura externa, e em particular na África Subsaariana, afirma a análise do Trade Law Centre for Southern Africa.
“À medida que a procura interna chinesa muda de bens de investimento para o consumo doméstico e, implicitamente, para os serviços, os exportadores de alimentos e de serviços podem ganhar com a alteração”, refere também uma análise de Março do China Africa Trading Relationship. Isto permite compensar “o impacto da redução da procura por importações africanas e da quebra dos preços de matérias-primas, que deve  ter um impacto negativo nos preços globais deste tipo de bens”, afectando os termos de troca.
“É, por isso, imperativo para os países africanos diversificar exportações ou subir na cadeia de valor”, refere o documento, citado pela imprensa chinesa. Após o último Fórum para a Cooperação China-África (realizado em Joanesburgo, nos dias 4 e 5 de Dezembro de 2015), o economista Mark Bohlund disse, em artigo para a Bloomberg Intelligence, que o abrandamento na China é mais um “solavanco” para os países africanos.
A quebra dos preços do petróleo, defende, resulta mais do aumento da produção nos Estados Unidos do que de uma redução de importações da China – cuja economia continua a crescer, a partir de uma base mais elevada. A redução dos níveis de investimento, adianta, reflecte sobretudo a desvalorização de alguns activos mineiros e “o investimento financiado por dívida é muito mais importante para África do que o IDE e deve  continuar a crescer à medida que a China expande a abrangência dos seus projectos de financiados no continente.”

Mais investimento

“O investimento chinês em infra-estruturas na África Subsaariana deve  com maior probabilidade aumentar do que descer”, tendo em conta as transferências do banco central da China para o Banco de Exportações e Importações (ExIm) da China (45 mil milhões de dólares) e do Banco de Desenvolvimento da China (48 mil milhões de dólares), em Julho de 2015, para financiar a estratégia da Nova Rota da Seda, aponta Mark Bohlund.
As autoridades chinesas defendem que, mesmo no actual contexto de abrandamento, o investimento em África vai continuar e até tem mais importância.
La Yifan, embaixador chinês na Etiópia afirmou à agência financeira Reuters a 15 de Março que os países africanos podem mesmo ser “o local ideal” para investimentos de empresas que “impulsionaram a expansão das infra-estruturas chinesas nos últimos 30 anos”, numa altura em que a sua economia doméstica abranda e olham mais para o estrangeiro.
“Apesar de todas as dúvidas, posso partilhar que na China os departamentos de governo relevantes, bancos de desenvolvimento, companhias de seguros estão a abordar os seus parceiros africanos para tornar este grande plano uma realidade”, concluiu La Yifan.

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