Angola é bom país para investir
O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, afirmou ontem, em Jacarta, que a situação política e económica em Angola é estável, o que tem permitido criar no país um ambiente propício ao investimento e ao surgimento de um tecido empresarial forte e competitivo.
Ao discursar para representantes de 105 países do Movimento dos Não Alinhados, 15 países observadores e 17 organizações internacionais, no primeiro dia da cimeira de Jacarta, o Vice-Presidente da República disse que Angola continua a ser movida pelos princípios que norteiam a Declaração de Bandung e vai continuar a trabalhar lado a lado com todos os países membros para a paz, solidariedade e prosperidade no mundo.
Manuel Vicente disse que o país apoia a proposta da Indonésia de criação de um Centro Ásia-África, com o propósito de promover o investimento dos dois continentes. “Consideramos ser importante e urgente fazer sobre estes temas uma abordagem cuidada e atenta, no sentido de não nos deixarmos levar pela dinâmica dos acontecimentos”, sublinhou.
O Vice-Presidente da República disse que o facto dos países Não Alinhados representarem dois terços dos integrantes da Organização das Nações Unidas e compreenderem que são mais de 55 por cento do total da população mundial, obriga a que líderes africanos e asiáticos tenham de abordar os temas mais candentes da política internacional, sobretudo no que toca à reforma das organizações internacionais como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e o Conselho de Segurança das Nações Unidas, de forma a assegurar o fortalecimento da cooperação Sul-Sul, para promover a paz e a prosperidade mundial.
Apoio à Palestina
Manuel Vicente reafirmou igualmente o apoio do Governo angolano ao direito inalienável do povo palestino à autodeterminação. “Reafirmarmos que é possível o convívio entre palestinos e israelitas, na base do respeito mútuo, no respeito pela diferença e no interesse dos dois povos”, realçou. Saudou a retomada das conversações entre Cuba e os Estados Unidos para o restabelecimento das relações diplomáticas e de cooperação. “Consideramos ser um passo importante na afirmação do povo cubano ao reconhecimento e integração política e económica mundial”, disse, manifestando ainda a contínua preocupação de Angola quanto aos acontecimentos recentes que perpetuam a instabilidade política e prevalência de conflitos no mundo.
O Vice-Presidente da República disse que o Governo de Angola, enquanto membro não permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, condena todas as tentativas de interferência nos assuntos internos dos Estados, reiterando que “somente o pleno respeito pela ordem constitucional, pelo Estado de Direito e pelas autoridades democraticamente instituídas, garantem o alcance da paz e do desenvolvimento que todos almejam e merecem”.
Novas perspectivas
O Vice-Presidente da República destacou a importância da criação da Nova Parceria Estratégica Ásia-África e sublinhou que os seus três pilares abrem novas perspectivas para os dois continentes, quanto à solução dos problemas que atravessam no contexto político e económico mundial, lembrando que o 60º aniversário da Conferência de Bandung tem lugar num contexto particularmente difícil, com a emergência de vários conflitos no mundo.
Neste contexto, realçou, a reflexão do tema desta celebração deve ter em conta a importância da organização em manter-se como força motora no processamento das mudanças profundas que se verificam hoje a nível mundial, sublinhando que passado esse tempo, a garantia da paz e da segurança internacional, da promoção e da garantia dos direitos humanos e a erradicação da pobreza, continuam a ser os desafios dos países em via de desenvolvimento. Manuel Vicente lembrou a necessidade dos Estados se juntarem aos países predecessores da conferência, rendendo homenagem aos líderes que diante do contexto social e político mundial, já naquela altura, tiveram a iniciativa de organizar a conferência que reuniu diferentes correntes do mesmo movimento de emancipação em fases distintas de desenvolvimento, aproximando dois continentes e vários povos.
Todos estes factores marcaram a emergência que conduziu os países em desenvolvimento a agirem como um bloco alternativo, o que levou a que mais de metade da população do planeta fosse reconhecida como força política activa e com uma consciência de identidade colectiva mais madura. “Permitam testemunhar o nosso privilégio em participar nesta cimeira como país soberano e membro do Movimento dos Países Não Alinhados criado sob os auspícios da histórica Conferência de Bandung. Agradecemos o convite endereçado ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e ao Governo de Angola para participar nas celebrações do 60º aniversário da Conferência de Bandung e do décimo aniversário da Nova Parceria Estratégica Ásia-África”, salientou.
Voos para Angola
O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, encontrou-se ontem, em Jacarta, com o Presidente do Vietname, Truong Tan San, à margem da cimeira dos Chefes de Estado e de Governo África-Ásia. Não foram prestadas declarações à imprensa, mas a cooperação bilateral esteve na base do encontro. Quanto ao avanço nas relações entre as petrolíferas angolana e a da Indonésia, o Vice-Presidente da República disse à imprensa que as duas empresas continuam a trabalhar e todo o processo está a decorrer sem sobressaltos.
À margem da cimeira, Manuel Vicente encontrou-se também com o Primeiro-Ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, com quem abordou a questão da cooperação bilateral.
Nesse encontro, a delegação de Singapura manifestou o interesse da sua companhia aérea passar a efectuar voos regulares para Angola.
Segundo o embaixador de Angola em Singapura, Fidelino Figueiredo, a concretização desta iniciativa, proposta por Singapura, está dependente da assinatura de um acordo no sector da aviação.
Fidelino Figueiredo disse que todo o dossier vai ser analisado pelos dois governos, que devem de seguida baixar as devidas orientações às companhias aéreas para que a seu nível prossigam com o processo.
Reforma da ONU
A unanimidade dos líderes africanos e asiáticos quanto à necessidade de se operarem reformas nas Nações Unidas se evidencia cada vez mais, numa altura em que os Estados pretendem partilhar experiências, fortalecer as parcerias e discutir estratégias para superar os desafios comuns e impulsionar o desenvolvimento económico em ambos os continentes, através do reforço da cooperação Sul-Sul.
O Presidente da República da Indonésia, Joko Widodo, como anfitrião, abriu oficialmente a reunião dos líderes africanos e asiáticos, na manhã de ontem, recordando os acontecimentos da primeira conferência de há 60 anos, observando que os desafios e as lutas enfrentadas pelos povos asiáticos e africanos ainda não estão resolvidos.
O Presidente Joko Widodo chamou à atenção dos presentes para a situação da Palestina e da necessidade de uma nova estrutura económica que garanta a estabilidade e igualdade dos dois continentes.
“Quando um grupo nas Nações Unidas pensa que vai resolver os problemas do mundo em função do que pensa, acaba por nos embaraçar a todos. Torna-se cada vez mais evidente que a ONU está cada vez menos poderosa. Como testemunhamos, quando há necessidade de recurso à força, a ONU ignora a visão e o poder das outras organizações”, disse o Presidente da Indonésia, num apelo a necessidade de reforma da Organização das Nações Unidas.
“O mundo parece perder esperança, quando vê o povo palestino a viver no temor e na injustiça. Não podemos cruzar os braços diante da situação. Temos de apoiar o processo de paz israelo-palestino”.
Intervenção de Mugabe
O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, pediu, igualmente, reformas na ONU, num apelo que pretende que o conjunto da Ásia e da África fortaleça a unidade, a fim de realizar a justiça no mundo. “Exorto a ONU a encetar reformas, a fim de alcançar um equilíbrio na ordem mundial baseada na justiça”, disse Mugabe, que considerou os Dez Princípios de Bandung o espírito de resistência contra a injustiça.
Os dois continentes têm em mãos 16 projectos de cooperação para o desenvolvimento económico nas áreas de energia, transporte ferroviário e construção de estradas. Diante disso, o Presidente do Zimbabwe sublinhou que a ligação entre África e os países asiáticos mostra uma evolução positiva. “Os 60 anos da Conferência África-Ásia devem levar-nos à mudança económica nos dois continentes. Espero que os investimentos dos empresários asiáticos também aumentem em África”, disse.
Em 2014, o PIB total da Ásia era de 185 triliões de dólares, oito vezes maior que o de África, que rondou no mesmo período os 2,3 triliões de dólares. No dia 24 de Abril, todas as atenções estão voltadas para Bandung, onde vai ser reavivado o espírito da histórica conferência que juntou pela pela primeira vez dirigentes e delegados africanos e asiáticos há 60 anos. A comemoração tem o seu culminar amanhã, em Bandung.