Angola é auto-suficiente em seis produtos alimentares

Banana, uma das frutas mais cultivadas em Angola

A mandioca, batata-doce, banana, o ananás, os ovos e a carne de cabrito são apontados pelo Governo angolano como os produtos que alcançaram a auto-suficiência no país.

A quantidade desses bens produzidos em Angola é suficiente para satisfazer as necessidades do mercado nacional, sem recorrer à importação, facto que torna o país autónomo na sua produção e distribuição, refere o Relatório da Campanha Agrícola (RCA) 2019/2020.

Sem dados concretos para aferir a real quantidade de produtos agro-pecuários que os consumidores procuram anualmente no país,  o documento aponta a fileira de raízes e tubérculos como a que mais se destacou neste período, com o cultivo da mandioca, batata e batata-doce a totalizar 11 milhões 823 mil 262 toneladas.

Segundo esse documento do Ministério da Agricultura e Pescas (Minagrip), a que a ANGOP teve acesso, o total da produção representa um aumento de 6,2 por cento comparativamente ao período de 2018/2019.

O RCA 2019/2020 indica que a referida quantidade foi colhida numa área de 982 mil 532 hectares (+5,8%), numa média de 12 mil 033 quilogramas por hectare (kg/ha), nas províncias do Uíge, com 20,9%, Malanje (14,9%), Cuanza Sul (9,3%), Moxico (8,5%) e Lunda Sul (6,4%).

Dos três tubérculos, a maior parte da produção recai sobre a mandioca, que somou nove milhões 592 mil 870 toneladas (+6,6%), sendo oito milhões 958 mil 415 cultivadas pelas Empresas Agrícolas Familiares (EAF) e 634 mil 454 pelas Empresas Agrícolas Empresariais (EAE), sendo 12 mil 931 kg/ha.

A batata-doce atingiu um milhão 749 mil 832 toneladas (+4,1%), num somatório de um milhão 596 mil 453 das EAF e 153 mil 379 das EAE, na razão de nove mil 992 kg/ha.

Ainda na fileira das raízes e tubérculos, a batata somou 480 mil 560 toneladas (+5,6%), das quais 252 mil 141 foram produzidas pelas EAF e 228 mil 419 pelas EAE, numa média de sete mil 327 kg/ha.

Fileira das fruteiras 

Com um total de cinco milhões 578 mil 778 toneladas (+5%), colhidas numa área de 243 mil 883 hectares (+3%), sendo 22 mil 875 kg/ha (+1,9%), a fileira de frutas também se destacou, com uma produção feita nas províncias de Benguela, com 21,2%, Cuanza Sul (15,9%), Uíge (9,8%), Bengo (7,7%) e Cabinda (7,4%). 

Nesse segmento, a maior parte da produção foi da banana, que registou quatro milhões 204 mil 538 toneladas (+4,2%), sendo dois milhões 732 mil 898 cultivadas pelas EAF e um milhão 471 mil 640 pelas EAE.

Até 2020, Angola era o maior produtor africano de banana e sétimo no mundo, com uma oferta de 4,4 milhões de toneladas, segundo a tabela do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), publicada naquele ano.

A classificação de 2020 reporta a produção de 2019, período em que a Índia continuava a liderar a lista de países produtores de banana, com cerca de 26,6 por cento da oferta, seguida da China com 9,7 por cento, Indonésia (6,3), Brasil (5,8) e Equador (5,6) no top 5.

Há mais de seis anos que Angola se declarou auto-suficiente na produção de banana, fruta mais cultivada e consumida no mundo, com realce para as províncias do Bengo e Benguela.

Já o ananás destacou-se com a colheita de 637 mil 630 toneladas (11,1%), das quais 414 mil 386 das EAF e 223 mil 244 para as EAE.

Constam dessa fileira os citrinos (laranja, limão e tangerina), com uma cifra de 436 mil 086 toneladas (+5%), sendo 325 mil 646 para as EAF e 110 mil 440 EAE.

A manga totalizou 248 mil 036 toneladas (+4,8%), sendo 163 mil 984 das EAF e 84 mil 052 das EAE.

O abacate também consta do top 5, com a colheita de 52 mil 488 toneladas (+1,1%), sendo 47 mil 021 das EAF e cinco mil 467 das EAE.

Fileira dos cereais  

A actividade agrícola 2019/2020, permitiu produzir três milhões 71 mil 85 toneladas de cinco cereais mais consumidos no país (milho, massango, massambala, arroz e trigo), representando um crescimento de 5,6 por cento (+171.980 toneladas) em relação ao período anterior.

A maior parte dessa produção foi feita na província do Huambo, com 27,8%, seguido do Cuanza Sul (22,9%), Bié (16,1%), Benguela (11,1%) e Huíla (8,7%), numa área de dois milhões 903 mil 111 hectares (+3,6%), cuja média de colheita rondou mil 058 kg/ha.

Do total da produção, o milho lidera o top 5 da fileira dos cerais, atingindo a cifra dos dois milhões 972 mil 177 toneladas, um aumento de 5,4 por cento (+160.497) comparativamente a safra anterior que resultou no cultivo de cerca um milhão 367 mil 200 toneladas.

Dessa produção, dois milhões 375 mil 653 toneladas de milho foram produzidas pelas EAF, enquanto as Empresas EAE colheram 596 mil 524, numa média de mil 143 kg/ha).

Na lista dos cinco cereais, a produção do massango cifrou-se em 43 mil 981 toneladas, o que representa um incremento de 18,1% (+7.960), sendo 42 mil 152 toneladas cultivadas pelas EAF e mil 829 pertencentes às EAE, em 276 kg/ha.

Segue-se o cultivo da massambala, que resultou na colheita de 34 mil 991 toneladas (+8,5%), com 34 mil 591 toneladas feitas pelas EAF e 400 pelas EAE, calculando-se 285 kg/ha.

A produção do arroz cifrou-se em 10 mil 567 (+4,6%) toneladas, distribuídas em cinco mil 336 para as EAF e cinco 231 para EAE, sendo mil 337 kg/ha. O trigo somou nove mil 368 (+2,1%) toneladas, com  nove mil 172 das EAF e 196 das EAE, numa média de 715 kg/ha.

Leguminosas e oleaginosas 

Apesar de também registar um aumento na produção, as leguminosas e oleaginosas atingiram apenas 606 mil 698 toneladas (+5,5%), cultivadas em mil 037.644 hectares (+2,9%), sendo 585 kg/ha (+2,5%), nas províncias do Huambo (19,5%), Bié (17,9%), Cuanza Sul (16%), Uíge (11,3%) e Malanje (7,1%).

Nesse conjunto, a produção do feijão, um dos alimentos mais consumidos no país, liderou a lista de três bens alimentares, tendo somado 344 mil 762 toneladas (+5,8%), sendo 304 mil 533 das EAF e 40 mil 229 das EAE, com o registo de 512 kg/ha.

Na sequência, registou-se a produção de 223 mil 976 toneladas de ginguba (amendoim) (+5,8%), das quais 212 mil 158 foram cultivadas pelas EAF e 11 mil 818 pelas EAE, com 680 kg/ha.

A produção da soja também assinalou um aumento de 1,6%, atingindo as 37 mil 961 toneladas, distribuídas em 25 mil 698 para as EAF e 12 mil 263 para as EAE, sendo mil 064 kg/ha.

Hortícolas 

Nesse segmento registou-se um total de dois milhões 010 mil 420 toneladas (+3,7%), colhidas numa área de 136 mil 360 hectares (+4,3%), nas províncias do Huambo (27,5%), Benguela (27,1%), Cuanza Sul (8,4%), Bié (7,4%) e Huíla (6,4%), numa razão de 14 mil 743 kg/ha (-0,6%).

Fazem parte desse conjunto 605 mil 998 toneladas de cebola (+2,6%), 589 mil 664 de tomate (+5,2%), 355 mil 127 hortícolas diversas (+3,1%), 304 mil 255 de repolho (+3,6%), 144 mil 240 de cenoura (+4,1%) e 11 mil 136 de alho.

Produção de café e cana-de-açúcar 

O sector registou a produção de 12 mil 100 toneladas de café Mabuba e seis mil 050 de café comercial em 2020, um incremento de 14 por cento, comparado com o período anterior.

Quanto à produção da cana-de-açúcar, foi de mil 180 toneladas (+20%). Ainda na mesma fileira, destaca-se a distribuição de dois mil 163 mudas de cacau, que contribuiu para a instalação de 24 hectares, envolvendo um total de 32 famílias.

Foram também distribuídas 171 mil 756 mudas de palmeiras, com a instalação de mil 194 hectares, abrangendo um total de 618 das EAF e EAE, na província de Cabinda, assim como registou-se o acompanhamento da implementação de duas mil mudas de cajueiro, por uma cooperativa local, na província do Zaire.

Exploração florestal

Em 2020, a actividade florestal registou perdas significativas, com a produção de 43,4 mil metros cúbicos de madeira em toro, uma redução de 65 por cento, enquanto a produção da madeira serrada rondou os 32,8 mil metros cúbicos (-58%).

Nessa época, a exportação da madeira serrada atingiu os 33,4 mil metros cúbicos, tendo uma redução de 58 por cento.

A produção do mel também recuou para nove toneladas (-92%), um cenário igualmente vivido na produção de cera (substância segregada pelas abelhas para a construção das células dos seus favos de mel), que registou 1,5 mil toneladas (-99%).

Produção de carne (pecuária) 

Contrariamente ao sector agrícola, com a maior parte do cultivo a ser feito na Região Sul, a produção pecuária foi predominante na Região Norte, que registou um aumento de 8,1% na produção de carne diversa, num total de 186 mil toneladas.

Desse total, constam 101 mil 693 toneladas de carne caprina, 42 mil 963 de bovina, 29 mil 860 aves, seis mil 239 ovino e cinco mil 245 suína.

A Região Norte somou 62% de carne caprina, 59% ovina, 57% aves, 54% suína e 43% bovina, enquanto a Região Centro contou com 27% de carne bovina, 26% suína, 22% aves, 21% caprina e 18% ovina.

A Região Sul registou 31% de carne bovina, 23% ovina, 21% aves, 20% suína e 17% caprina.

De acordo com o Relatório da Campanha Agrícola 2019/2020, o país conta com um efectivo pecuário de 163 mil 661 animais (bovino, caprino, suíno, ovino e aves), dos quais 153 mil 707 são das Empresas Agrícolas Empresariais e nove mil 954 das Empresas Agrícolas Familiares, num universo de mil 522 criadores.

Fruto da criação das cabeças de gado bovino, a produção do leite em Angola também registou um aumento de 6,5%, ao totalizar 3,3 milhões litros.

Quanto à produção de ovos, a estatística aponta para 1,4 milhões, um aumento de 42 por cento.

Pescas

No período 2019/2020, a actividade pesqueira em Angola resultou em 230 mil toneladas de capturas (-12%), no segmento da pesca industrial e semi-industrial.

Já no sector da pesca artesanal marítima registou-se a captura de 112 mil toneladas (+14%), enquanto a pesca artesanal continental (feita no rio) somou 10 mil toneladas (-42%) e a produção aquícola atingiu 2,06 mil toneladas (+5%).

Com uma capacidade de captura que varia entre 300 mil a 400 mil toneladas de pescado por ano, Angola está cada vez mais próximo de ser auto-suficiente em produtos pesqueiros, visando responder as necessidades do mercado interno.

Ainda com auxílio à importação, anualmente as necessidades do país são estimadas em 550 mil toneladas de peixe, segundo fonte do Ministério da Agricultura e Pescas (Minagrip).

Perante esse cenário, estima-se que o país esteja a 150 mil toneladas para a oferta ser igual ou superior à procura do pescado, considerando a pesca de 400 mil toneladas/ano, obtida de forma variável em cada época piscatória.

Por outro lado, caso o nível de captura seja de 300 mil toneladas/ano, Angola precisará de produzir mais 250 mil toneladas, para equilibrar a balança entre a oferta e a demanda, com vista a satisfazer o consumo interno.

Somando a habitual produção nacional, cerca de 80 mil toneladas de bacalhau salgado seco, filetes congelados e enlatados são importadas por Angola. A diferença entre a oferta e a procura não foge muito das necessidades da população, totalizando quase 500 mil toneladas/ano.

Ainda no sector das pescas, destaca-se a produção de sal, que aumentou em 50%, com o registo de 164 mil toneladas em 2019/2020.

Exportação  

Entre os produtos cultivados em Angola, a banana e algumas espécies dos recursos pesqueiros são os que se destacam na exportação.

Resultado da produção das empresas angolanas, que estudam mecanismos para fazer chegar a fruta aos Estados Unidos da América (maior consumidor mundial), a banana de Angola já é exportada para países como Portugal, África do Sul, Zâmbia e República Democrática do Congo (RDC).

No conjunto de várias empresas produtoras de banana no país, a Nova Agrolíder é a que se destaca, com uma média de produção de 70 mil toneladas/ano, das quais mil 200 toneladas são exportadas para Portugal e Espanha e 160 mil para a África do Sul, segundo estatística desta empresa, em 2020.

Quanto às espécies marinhas, Angola exportou 15 mil toneladas de crustáceos e moluscos, no primeiro semestre deste ano, que permitiu a arrecadação de a 35 milhões de dólares, representando um incremento de 50 por cento comparativamente a igual período de 2020, informou a secretária de Estado para as Pescas, Esperança da Costa.

Em entrevista à ANGOP, disse que a maior parte dessa exportação teve como destino países da União Europeia (UE), com destaque para a Espanha, e da Ásia (China e Japão), que importam, fundamentalmente, os crustáceos e moluscos de Angola.

Apontou o Gabão e a República do Congo como os países que, essencialmente, importam as sardinelas, cavalas e outras espécies de Angola.

Em suma, o sector da agricultura em termos de contribuição para a economia nacional, entre 2018 a 2020, registou a maior participação em 2020, com 7% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o segmento das Pescas contribuiu com 2,74%.

Agricultura, pecuária, florestas e pescas são os sectores que mais empregam em Angola, sendo 53% dos empregados com idades entre os 15 e 64 anos, o equivalente a 5,3 milhões de pessoas. No meio rural a taxa de empregabilidade é de cerca de 93 por cento.

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