África junta forças para a paz na RCA

Fotografia: Rogério Tuti
O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, participa hoje em Addis Abeba na Conferência Internacional dos Facilitadores da Paz na República Centro Africana que discute, entre outros temas, o programa de reforço das fases do processo de reconciliação das forças militares na RCA.
A Conferência de Facilitadores deve anunciar hoje o “plano definitivo” sobre as vias a seguir para completa pacificação da RCA, país que está a braços com uma onda de violência inter-religiosa que já causou centenas de mortos e milhares de deslocados.
Tema dominante da conferência na capital etíope, o programa de reforço da reconciliação das forças militares da RCA foi adoptado durante o encontro de líderes da CEEAC, realizado a 26 de Junho em Malabo, à margem da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, na qual Angola marcou presença com o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente.
Durante a reunião de Malabo foi igualmente adoptado o documento final da recente cimeira tripartida de Luanda, convocada pelo Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, líder em exercício da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), para uma reflexão “profunda e directa” sobre as causas dos problemas e da instabilidade que afectam a região central de África e para definir as bases da procura de soluções duradouras. “Se a reunião de Addis Abeba adoptar o programa já traçado, certamente, isso vai reforçar todo o processo e seguem-se as fases da reconciliação entre as correntes políticas internas da RCA”, declarou o ministro Georges Chikoti.
A situação na RCA continua crítica, sendo urgente conduzir a reconciliação entre os centro-africanos e consolidar o seu próprio processo de transição. Segundo as Nações Unidas, a onda de violência dirigida contra grupos minoritários continua em todo o país, inclusive na capital, Bangui. Mais de 20 mil pessoas estão sitiadas e ameaçadas por milícias armadas em 18 locais diferentes. Os agentes humanitários procuram aumentar a resposta de emergência nas principais cidades. No entanto, o subfinanciamento da acção humanitária na RCA prejudica seriamente a prestação de assistência para 1,9 milhões de pessoas beneficiadas com o Plano de Resposta Estratégica.
O Governo de transição da RCA e seus parceiros lançaram recentemente uma campanha agrícola, que visa restaurar os bens de produção, fornecendo insumos agrícolas essenciais e permitindo que os agricultores atingidos pela crise produzam o seu próprio alimento e aproveitem as oportunidades locais.
De acordo com a Agência da ONU para Refugiados, milhares de pessoas fogem da violência em torno da cidade de Bambari, a 380 quilómetros de Bangui. Os ataques já fizeram pelo menos 45 mortos e dezenas de feridos, quando um grupo armado invadiu um acampamento muçulmano de etnia Peul.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) considerou o ataque uma retaliação contra grupos armados e a população civil, afirmando que Bambari tinha sido reduzida a uma “cidade fantasma”.
“Grupos armados continuam os combates e atacam a população local. Dezenas de pessoas foram mortas ou feridas e centenas de casas destruídas”, disse a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming, lembrando que milhares de pessoas precisam urgentemente de abrigo, água e alimentos.
Desde Dezembro de 2013, cerca de 140 mil pessoas da República Centro Africana buscaram refúgio nos Camarões, RDC, Congo-Brazzaville e Chade, para escapar à violência no país. Na sua maioria mulheres e crianças, os refugiados centro-africanos chegam aos Camarões, normalmente em estado de choque, subnutridos e muito doentes, segundo as agências da ONU.
Grande parte dos refugiados caminha durante semanas, ou mesmo meses, para alcançar a fronteira da RCA com os Camarões. Uma travessia qualificada pelo ACNUR como “uma jornada de fome e morte”. O Programa Alimentar Mundial (PAM) e o ACNUR calculam que, em média, dois mil refugiados provenientes da RCA chegam aos Camarões semanalmente.
Com um défice de 70 por cento no financiamento do programa de assistência humanitária na região, as agências da ONU apelam para uma contribuição urgente de 15,6 milhões de dólares para cobrir as suas operações de emergência na região nos próximos oito meses.