África enfrenta grande desafio

Fotografia: João Gomes
O desenvolvimento da agricultura em África é um imperativo de todos os Estados, para que a África possa reduzir o número de pessoas subnutridas no continente, disse o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente.
Ao discursar na 23ª Cimeira da União Africana que decorre em Malabo (Guiné Equatorial), o Vice-Presidente da República referiu que, para o efeito, é preciso diversificar as economias e participar no comércio internacional de alimentos como exportadores.
Para atingir esses objectivos, é urgente que se incremente os investimentos públicos e privados nos sectores da agricultura, da agro-indústria, ciência e tecnologia e das infra-estruturas de energia, água, telecomunicações e estradas. A electrificação rural, a disponibilização da água e a construção de redes ferroviárias e rodoviárias, assim como a construção de sistemas de irrigação e a aplicação de tecnologias são também tarefas a desenvolver.
“São essas, entre outras, algumas das alavancas da agricultura\”, disse, acrescentando que isso promove a contenção do êxodo rural, mas, sobretudo, é um mecanismo que pode conferir aos camponeses uma vida melhor no meio rural africano.
A dinâmica demográfica do continente é também um aspecto de reflexão e referiu que é previsível que os futuros agricultores africanos venham a ser jovens, prevendo que estes sejam mais receptivos à agricultura pela introdução de novas tecnologias e ideias e sejam ainda melhor informados com as crescentes necessidades e aspirações.
A produção dos bens no meio rural deve ocupar, por essa razão, um lugar de destaque nos programas de desenvolvimento, sendo um grande desafio que a todos deve mobilizar. “Para muitos dos nossos países a renda per capita tem melhorado significativamente, graças à execução de programas de desenvolvimento rural e de combate à fome e à pobreza.\”
A paz propiciou o início da recuperação da economia, em geral, e da agricultura, em particular, com o crescimento da produção alimentar. “Para assegurar esse crescimento, promover melhorias duradouras e garantir emprego e renda e a qualidade de vida, foi necessário estimular o investimento público e privado\”, disse Manuel Vicente.
Manuel Vicente, que representa o Presidente José eduardo dos Santos, anunciou que este ano se realiza uma conferência sobre agricultura familiar em Angola, tendo em conta a sua importância económica e social. “Esta é também uma forma de saudarmos o ano de 2014 como o ano da agricultura familiar, proclamado pelas Nações Unidas\”, referiu.
Na sessão de abertura, a presidente da Comissão da União Africana (UA), Nkosazana Dlamini-Zuma, apelou ao calar as armas no Sudão do Sul e na República Centro Africana “para as populações voltarem às terras de origem e plantarem os campos\”. “O terrorismo ameaça-nos a todos e cria miséria\”, alertou Dlamini-Zuma, para quem o combate a este mal deve constituir “prioridade das prioridades\”.
A presidente do órgão executivo da União Africana congratulou-se com os resultados das eleições na Mauritânia, África do Sul, Egipto e Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau participa pela primeira vez numa cimeira da organização depois do regresso do país à normalidade constitucional.
Agenda africana
Nkosazana Dlamini-Zuma, que centrou a intervenção no futuro e nos desafios de África, falou da Agenda África 2063, documento que pretende ver debatido pela \”família africana\” para todos terem uma palavra a dizer. “Estamos no primeiro ano de uma viagem de 50\”, disse Dlamini-Zuma, que lembrou que a Agenda 2063 se destina a erradicar a pobreza, a fome e a malnutrição do meio rural.
Quando se adoptou a agenda, referiu, foi para promover o mercado agrícola, o investimento nas tecnologias e aumentar a produtividade a pensar na industrialização. têm de ser criadas políticas estatais sérias capazes de evitar que os agricultores africanos tropecem no velho problema das calamidades naturais\”.
Nkosazana Dlamini-Zuma referiu ser a favor do acesso à terra para o cultivo permitir produção de monta e lamentou que os jovens africanos tenham uma espécie de aversão à actividade agrícola. Essa situação, acentuou, justifica-se pela falta crónica de tecnologias no sector em África. “A enxada e outros meios rudimentares da agricultura devem ser guardados nos museus e jamais serem símbolos de trabalho da mulher\”, disse numa clara alusão à necessidade de se modernizar o sector.
A agricultura, prosseguiu, deve ser atraente para os jovens e o continente apostar na formação de bio-engenheiros e recursos humanos para o sector caminhar de acordo com o pretendido. A seca dos nossos lagos e as calamidades nos Estados insulares, sublinhou, devem ser combatidas para que se alcançarem os objectivos da segurança alimentar.
Nações Unidas
O Secretário-Geral das Nações Unidas falou dos progressos que África tem registado na economia e na estabilidade política e reiterou o apoio da ONU na execução da Agenda África 2063. “As Nações Unidas e a União Africana estão de mãos dadas para a materialização da sua agenda\”, disse Ban Ki-moon, que realçou a importância de até 2063 se erradicar a fome e a pobreza em África.
Ban Ki-moon também referiu o interesse de um desenvolvimento efectivo de África baseado em políticas destinadas ao aumento do investimento nos recursos humanos e nas tecnologias por proporcionam exportação de bens com valor acrescentado, mas alertou para a importância de se reduzir a emissão de dióxido de carbono e as vertiginosas alterações climáticas.
Sobre os direitos fundamentais, recordou a importância de se fazerem valer os direitos e liberdades e pediu aos países-membros que não concedam abrigo a quem esteja sob sanções ou procurado por autoridades judiciais.
O primeiro-ministro espanhol aludiu ao momento de crise da Europa e disse que o normal naquele continente “é falar-se dos problemas de África e não dos êxitos\”. Mariano Rajov afirmou ser “necessário que os líderes africanos trabalhem para desfazer essa visão pessimista\”.