Autoridades angolanas debatem mobilidade urbana no país

As autoridades governamentais angolanas reflectem esta segunda-feira, em formato virtual, sobre a mobilidade urbana no país, numa altura em que o mundo celebra hoje (dia 8 de Novembro) o Dia Mundial do Urbanismo.
A efeméride, instituída em 1934, na Argentina (Buenos Aires), foi adoptada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1949, sendo celebrada por mais de 30 países, incluindo Angola. De concreto, a data serve, essencialmente, para alertar os governantes a reflectirem sobre a necessidade da construção de um urbanismo científico, tal como defendia o criador dessa efeméride, o argentino Carlos Maria Della Paolera. Ou seja, segundo o primeiro sul-americano graduado em urbanismo, no Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris (França), “o planeamento das cidades deveria ser tratado como uma ciência, a fim de transformar as zonas urbanas mais eficientes para os seus cidadãos. É com esse espírito que os governos de mais de 30 países membros das Nações Unidas aderiram à iniciativa de Carlos Paolera, assumindo o compromisso de criarem condições condignas para os cidadãos usufruírem do direito à habitação e terem acesso às cidades de forma livre e digna. Neste ano, os governantes e especialistas mundiais são chamados a debaterem, entre vários temas, “O sistema de transportes”, “Locais para habitação”, assim como “Soluções de lazer e planeamento de áreas verdes”. Na mesma senda, Angola também dedica o Dia Mundial do Urbanismo à reflexão da mobilidade urbana e do acesso à habitação condigna, temas que ainda continuam a ser “calcanhar de aquiles” para o Governo angolano, em particular, e do mundo, em geral. A propósito, o director nacional de Gestão Fundiária e Habitação, Adérito Mohamed, considera de extrema importância a efeméride, por permitir juntar governantes e vários especialistas, que devem apontar caminhos para melhorar a qualidade das infra-estruturas e serviços urbanos do país, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Em entrevista à ANGOP, o responsável reconhece a fraca capacidade de resposta existente no país, para atender à demanda da circulação das pessoas e do movimento rodoviário, nos centros urbanos com maior índice poupulacional. Além da “crónica deficiência” da mobilidade urbana, principalmente na capital angolana (Luanda), a fonte apontou ainda o direito à habitação condigna e do acesso à cidade de forma livre e digna como outro desafio que pressiona o Governo angolano. “As cidades devem congregar um conjunto de serviços e equipamentos que correspondam com os direitos dos cidadãos, como escolas, hospitais, redes eléctricas e de água, vias de acesso, drenagem, espaços de lazer, transportes públicos, entre outras infra-estruturas”, acrescentou. Por insuficiência desses equipamentos, a “desordem” urbana em Angola é uma realidade que vem de largas décadas, com maior destaque na época chuvosa. Esse cenário tem provocado inundações de águas residuais e pluviométricas por ausência de sistemas de drenagem eficientes, bem como os excessivos engarrafamentos que se registam quase todos os dias nos principais centros urbanos, particularmente em Luanda (com população de mais de seis milhões de habitantes). O impacto da falta de urbanização na capital do país já é sentido até nas centralidades e urbanizações que vão sendo frequentemente invadidas por construções anárquicas. Engenheiros defendem mais inclusão dos cidadãos na elaboração de programas Perante esse cenário, a Ordem dos Engenheiros de Angola (OEA) advoga a necessidade de se incluir os usuários das infra-estruturas públicas na elaboração e execução de programas sobre a mobilidade urbana, visando encontrar soluções conjuntas viáveis para melhorar a circulação rodoviária e de transeuntes nas cidades. De acordo com o bastonário da OEA, Paulino Neto, a inclusão dos cidadãos em projectos estruturantes (estradas, habitações, escolas e hospitais) deve ser acompanhada com a mobilização de mais especialistas da área de engenharia e arquitectura, para que se obtenha soluções adequadas à realidade geográfica, aos usos e costumes de cada região. Em declarações à ANGOP, o também engenheiro civil considera de extrema importância fazer-se um diagnóstico profundo, com a participação de vários especialistas e membros da sociedade civil, em matérias relacionadas com as infra-estruturas urbanas, com destaque para as estradas primárias, secundárias e terciárias. O especialista sugere ainda a necessidade de se adoptar soluções mais económicas, para que se aumente o número de quilómetros de estradas no país. A título de exemplo, Paulino Neto aponta a construção de pavimentos em solos melhorados com a adição de cimento nas estradas nacionais, assim como o uso de cubos de granito na reabilitação de vias municipais, que facilitam o escoamento da produção agrícola do campo para os centros urbanos. “Temos assistido à importação de soluções que, apesar de serem adequadas em outros países, podem ser inviáveis e insustentáveis na nossa realidade. É importante termos as nossas soluções para resolver os problemas locais, sem alterar o nosso modo de ser e estar”, sublinhou. Além da “importação de soluções”, a fonte aponta a má utilização das estradas (excesso de peso, reparação e lavagem de viaturas na via pública, lixos nas valas de drenagem) e a falta de manutenção como as principais razões da rápida ddegradação das infra-estruturas rodoviárias e habitacionais do país. Para ajudar a mudar esse quadro, a OEA tem interagido com empresas e membros do sector em fóruns, propondo soluções concretas e sustentáveis. |