Angola celebra o Dia da Cultura Nacional

RUÍNAS DA ANTIGA IGREJA DE MBANZA CONGO FOTO: ANGOP

RUÍNAS DA ANTIGA IGREJA DE MBANZA CONGO
FOTO: ANGOP

07 Janeiro de 2020 | 16h19 – Actualizado em 07 Janeiro de 2020 | 16h21

Angola assinala a 8 de Janeiro o Dia da Cultura Nacional, numa altura em que trabalha para ter outros locais classificados como Património Cultural da Humanidade ao mesmo tempo que tenta promover as danças e músicas Semba e Rebita.

Depois de ter conseguido, na base de trabalhos intensos de arqueologia e diplomacia, catalogar Mbanza Congo como Património Mundial, Angola tenta fazer o mesmo com o Cuito Cuanavale.

Cuito Cuanavale é um município do sudeste angolano que registou uma batalha sem precedentes por ser um ponto estratégico para impedir o progresso das Forças Armadas Sul-Africanas no interior de Angola ou a viragem para a expulsão daquele exército do país.

O desfecho da memorável batalha, a favor das Forças Armadas Angolanas, levou a queda do regime do apartheid na África do Sul e consequente independência da Namíbia.

Antes, a África do Sul levava a cabo uma política de segregação racial em que negros e mestiços não tinham os mesmos direitos que os de raça caucasiana. Era o único caso no mundo, na época, em que o racismo tinha respaldo da lei.

A luta de Angola, sobretudo com a batalha do Cuito Cuanavale, levou a África do Sul a abandonar a sua política do apartheid, devolvendo à humanidade, pelo menos politicamente, a sua dignidade.

Pelo seu contributo, trabalha-se para que essa localidade seja considerada Património Mundial da Humanidade.

Além deste facto, que engrandece a história de Angola, o 8 de Janeiro serve para se relançar a dança e música Rebita que, apesar de ser uma das marcas da cultura Angola, encontra-se em decadência desde a época colonial (há riscos de desaparecer) e a promoção da dança e música Semba, que, ao contrário, vive um dos momentos mais belos da sua existência.

Infelizmente, a dança e música Rebita, ao longo dos tempos, perdeu adeptos e executantes. Um ou outro grupo profissional ainda exibe seus passos. A Rebita foi engolida ou transformada em outros géneros musicais da época, principalmente o Semba.

Agora há intenção de a “resgatar”, mas talvez seja tarde.

Rebita

A Rebita é um género de música e dança de salão angolana que demonstra a ginga dos cavalheiros e o adorno das damas vestidas de quimonos e panos à bessangana.

Dançada em pares, a partir de coreografias coordenadas pelo chefe da roda, na Rebita executam-se gestos de generosidades com as damas meneando com leveza, marcando o compasso do passo da massemba.

Há quem defenda que a massemba da Rebita, “dançada na rua, nas tardes de recreio, nos óbitos e nas noites de luar, enquanto ritmo emigrou para as guitarras virtuosas de Liceu Vieira Dias, José Maria, e, sobretudo, Nino Ndongo, por um processo de analogia da rítmica da percussão, dando origem ao Semba”.

Semba

O Semba, este sim, depois de viver um período menos bom, no pós-independência, asfixiada pela agressiva penetração de géneros musicais estrangeiros, sobretudo o zouk, regista um momento de regeneração e internacionalização, muito mais como dança.

A quase desassociação da dança da música vai levar os especialistas a tentar criar, a partir deste dia 8 de Janeiro, métodos para que as duas se elevem em paridade.

Hoje, a dança semba ganhou aceitação em quase todos os quadrantes do mundo, porém, nem sempre acompanhada pela música Semba.

O Semba é um género de música e de dança tradicional de Angola que se tornou popular nos anos 50. A palavra semba significa umbigada em kimbundo. Representa “o corpo do homem que entra em contato com o corpo da mulher ao nível do barriga”.

O Semba actual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assentes fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas, defendem os críticos.

Em torno disto, nesse 8 de Janeiro, as autoridades culturais angolanas querem concluir o processo de elevação da dança e da música Semba como “Património Imaterial da humanidade”.

O Dia da Cultura Nacional

O 8 de Janeiro, como dia da Cultura Nacional, foi adoptado tendo como referência o discurso do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, em 1979 na União dos Escritores Angolanos (UEA), na tomada de posse dos corpos sociais.

Na altura defendera que “desenvolver a cultura não significa submetê-la a outras”.

O poeta e político fizera uma abordagem sobre a Cultura Nacional, que passou a ser referência fundamental em todas as discussões sobre o assunto.

O lema escolhido para as comemorações do dia Nacional da Cultura em 2020, “A cultura e a consolidação da nação Angola”, expressa a concretização do pensamento de Neto na consumação da nação angolana com a conservação dos seus usos e costumes.

De acordo com “Termos de referencia da realização do dia 8 de Janeiro”, do Ministério da Cultura, as comemorações do dia nacional da Cultura terão como palco o município do Cazenga, com manifestações de animação cultural no âmbito do projecto “Cultura no meu Bairro”, e “Simultâneas” seguida de batucadas do carnaval.

Constam das manifestações dos povos angolanos rituais como Chikumbi, um rito de iniciação feminina em Cabinda, os Akixe ou bailarinos mascarados, preparados pela Mukanda, a escola tradicional de iniciação masculina entre o povo Cokwe, a dança fundura, interpretada pelas jovens kwanyamas, na sua festa de puberdade.

Danças como a cabetula, o semba, varina, a cidralia, kazukuta e a Dizanda, executadas principalmente nos desfiles carnavalescos, claramente diferenciadas pelos seus ritmos, passos, coreografias e indumentárias próprias.

No repertório cultural angolano há a destacar nomes sonantes como do recém falecido Zé Kafala, um expoente da trova, os músicos Elias Diakimuezo, Rui Mingas   Bonga,Yola Semedo, entre outros, os artistas plásticos Tomás Ana “ Etona”,  Mawete Patrício, Ulófe Griof, Alberto Moma, Serafim  Serlon, Van e Ole.

Angola também conta com um leque de escritores que tem, através das suas obras, retratando ao mundo as vivencias dos povos residentes neste pais, com destaque para Wanhenga Xitu, Jofre Rocha, Manuel Rui Monteiro, Óscar Ribas, Frederico Cardoso, Fragata de Morais, sem esquecer o poeta maior, António Agostinho Neto.

Os festejos do dia da Cultura Nacional decorrem de 7 a 31 de Janeiro, em todo o país. O “8 de Janeiro” foi aprovada pelo decreto nº 21 e publicado no Diário da República n.º 87, I Série, de Novembro de 1986, em homenagem ao discurso sobre a Cultura Nacional em 1979.

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