História do cinema angolano escrita em livro
O terceiro volume do livro “O nascimento de uma Nação – O Cinema da Independência”, que faz uma panorâmica da história do Cinema da Independência, desde 1975 aos dias de hoje, é lançado na terça-feira, às 18h30, no Centro Cultural Português, em Luanda.
O livro tem contributos de José Mena Abrantes, Rós Gray, Tatiana Levin e Maria do Carmo Piçarra, assim como entrevistas a Sarah Maldoror e Jorge António.
José Mena Abrantes faz uma análise sob o tema “Cinema angolano: um passado com o futuro sempre adiado”, dividindo a história do cinema em três períodos distintos.
O primeiro período Mena Abrantes refere-se, do pós-independência até 1985, é marcado por um forte dinamismo, quer na produção, quer na formação de quadros da Televisão Pública de Angola (TPA), da Promocine e da equipa Ano Zero, distinguindo-se, na altura, entre os pioneiros do cinema, Ruy Duarte, António Ole e Asdrúbal Rebelo.
O segundo, que considera de “impasse”, entre 1985-2000, em que o cinema mergulha numa “cinzenta e desfocada apatia, sem que se vislumbrasse nenhuma solução para a quase paralisação da actividade produtiva, para a ausência de promoção e distribuição de filmes antes realizados, para a deserção dos melhores quadros do sector e para a degradação e posterior encerramento de estruturas como o IAC e o LNC.”
No terceiro período, que vai de 2001 a 2005, Mena Abrantes explicou que começaram a surgir “sinais de revitalização”, pelas expectativas criadas com o fim da guerra em Abril de 2002. Destaca neste período a realização de três filmes: “O Comboio de Canhoca” de Orlando Fortunato, “A Cidade Vazia”, de Maria João Ganga, e “O Herói” de Zezé Gamboa, que conquistaram prémios internacionais.
Construtores da História
Rós Gray esboça um quadro genérico da colaboração recebida no âmbito da solidariedade internacional, particularmente de Cuba e França. A investigadora Tatiana Levin concentra-se no cinema actual produzido em Angola, quer pelo movimento da periferia, designado “cinema da poeira”, quer por alguns realizadores consagrados.
Enquanto que a investigadora Maria do Carmo Piçarra foca-se na obra de Ruy Duarte, destacando o “cinema de urgência” do cineasta – poeta, que procurava no seu trabalho uma linha de equilíbrio entre dois dinamismos, o do tempo mumuíla e o do um presente angolano.
O livro termina com entrevistas à investigadora Sarah Maldoror, que é considerada a matriarca do cinema africano e a primeira realizadora negra e a Jorge António, realizador estrangeiro que nos últimos vinte anos mais se tem dedicado ao cinema angolano e que, citando Maria do Carmo Piçarra, filmar Angola, muito para além de filmar em Angola, define o seu modo de fazer cinema.
A equipa de trabalho
O livro “O Nascimento de uma Nação – O Cinema da Independência” tem a coordenação de Maria do Carmo Piçarra e Jorge António.
Doutorada em Ciências da Comunicação, Maria do Carmo Piçarra é pós-doutoranda no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), na Universidade do Minho, e no Centre for Film Aesthetics and Cultures (CFAC), da Universidade de Reading.
Para a sua investigação pós-doutoramento, sobre as representações coloniais no cinema, é bolseira da fundação para a Ciência e Tecnologia desde 2013, condição de que beneficiou para a investigação e publicação do ensaio agora publicado. Actualmente é jornalista, crítica e programadora de cinema.
Jorge António nasceu em Lisboa, a 8 de Junho de 1966. Formado pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, especializou-se na área de produção (1988).
Durante anos tem sido convidado a participar, em Portugal e noutros países, em encontros, conferências, festivais, seminários e colabora na edição de livros e revistas sobre o cinema.
Em Angola é, desde 1995, produtor da Companhia de Dança Contemporânea, com espectáculos em inúmeras cidades em países de África, Ásia, América, Europa.
Além disso foi o consultor do Instituto Angola de Cinema e membro fundador do FIC – Festival de Cinema de Luanda (2008).
Em 1991 estreou-se como realizador com a curta “O Funeral”, que conquistou o prémio para Melhor 1ª Obra no Festival do Algarve, e em 1992 filma “O Miradouro da Lua”, a sua primeira longa metragem e primeira co-produção oficial entre Portugal e Angola.