Assinados acordos com a Itália

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

Os Governos de Angola e de Itália deram ontem um passo importante para o reforço da cooperação económica, financeira e político-diplomática, ao assinarem, em Roma, memorandos de entendimento que permitem operacionalizar as consultas bilaterais sobre temas de interesse comum, no plano bilateral e internacional.

A assinatura dos novos instrumentos jurídicos da cooperação italo-angolana dominaram o primeiro dia de trabalho da visita oficial do Presidente José Eduardo dos Santos à Itália. Foi provavelmente o mais intenso dos dois dias em Roma.
José Eduardo dos Santos reuniu-se, de manhã, no Palácio Quirinal, com o seu homólogo italiano Sergio Mattarella. Foi um encontro de cortesia, e também uma oportunidade para os dois Chefes de Estado falarem sobre os laços que unem os dois países e povos, desde a independência de Angola.
Após breves momentos em privado, o Presidente Sergio Mattarella acompanhou o Chefe de Estado angolano ao Salão Dei Corazzieri, um lugar sagrado das belas-artes romanas. No antigo Palácio Papal, actual residência oficial do Presidente da Itália e um dos símbolos do Estado italiano, o Chefe de Estado angolano pôde viajar pela História da capital do antigo império romano, desde os seus primórdios, através dos frescos que embelezam o salão de Dei Corazzieri.
Depois do Palácio Quirinal, José Eduardo dos Santos voltou por alguns instantes ao hotel onde está hospedado, antes de se dirigir à Villa Algardi, ao encontro do primeiro-ministro Matteo Renzi. Na agenda da reunião com o Chefe do Governo italiano, os dois líderes  aprofundaram assuntos abordados na visita do primeiro-ministro italiano a Angola, numa perspectiva de redefinir não só a estratégia, mas também os prazos.
Quando Matteo Renzi visitou Angola, em meados de Julho do ano passado, apesar de constituir já uma preocupação das autoridades angolanas, a diversificação da economia não tinha ainda adquirido o estatuto que tem actualmente na agenda do Governo. Só alguns meses depois  o Governo adoptou um conjunto de medidas para atenuar os efeitos negativos da queda acentuada do preço do petróleo bruto no mercado internacional.

Apoio à produção local

Renzi tinha mostrado, na visita a Angola, disponibilidade em incentivar as indústrias italianas, principalmente ligadas à agro-indústria, a investirem mais em Angola. A ideia, segundo o Chefe do Governo italiano, era responder a uma solicitação feita pelo Presidente José Eduardo dos Santos para, com a ajuda da Itália, levar Angola à auto-suficiência alimentar e passar depois a país exportador.
Foi com esse propósito que depois de intensas negociações a nível ministerial foram produzidos dois importantes instrumentos jurídicos que  tornaram as operações empresariais mais seguras e também mais activas. Desde logo, o memorando para a cooperação económica, em que as partes definem as áreas prioritárias de cooperação, além de um conjunto de tarefas a desenvolver à luz do documento. Em matéria de cooperação económica, Angola e Itália definiram como sectores prioritários a agro-indústria, os recursos energéticos, as tecnologias verdes, o tratamento das águas, as pescas, a indústria de transformação, máquinas, infra-estruturas, construção e recursos minerais.

Segurança nos investimentos

O memorando de entendimento para a cooperação no sector financeiro envolve a SACE, a entidade autorizada a desenvolver a actividade de seguros e garantia de riscos aos quais são expostos os operadores nacionais italianos na sua actividade com o exterior e na internacionalização da economia italiana. Ao rubricar o acordo com a entidade cuja missão é promover as exportações italianas e os investimentos no exterior, os dois Governos criaram o apoio aos investimentos que os empresários italianos pretendiam. Foi assinado ainda outro memorando vocacionado para uma maior cooperação em questões político-diplomáticas, especialmente nas Nações Unidas.

De mãos dadas

Matteo Renzi, era na altura o presidente em exercício da União Europeia e manifestou o apoio do seu país à candidatura angolana a membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU, reconhecendo o papel do Presidente José Eduardo dos Santos na estabilização da região dos Grandes Lagos e do continente africano de um modo geral. Claramente determinado em trabalhar por uma maior aproximação da Europa a parceiros em África nos desafios comuns do mundo moderno, Matteo Renzi disse: “A Europa e África trabalham em conjunto na próxima década ou todos perdemos.”
É nessa perspectiva que surge o memorando assinado ontem pelos ministros Georges Chikoti e Paolo Gentiloni sobre consultas bilaterais entre as diplomacias dos dois países. O documento tem por objectivo promover e fortalecer a amizade entre Angola e a Itália nos mais diversos domínios de modo a beneficiar o desenvolvimento das relações bilaterais e a cooperação nas questões internacionais. O encontro entre Matteo Renzi e o Presidente José Eduardo dos Santos teve lugar no Casino dell’Algardi, no coração do Casino del Bel Respiro, o maior parque público de Roma. É um lugar com grande significado histórico para a Itália, e ao que apurou o Jornal de Angola, é usado pelo primeiro-ministro italiano como escritório de representação com exclusividade para visitas de Chefes de Estado e de Governo.

Dia de audiências

Hoje, último dia da visita oficial, o Chefe de Estado concede audiências a várias personalidades ligadas a organizações internacionais, sedeadas na capital italiana, como o brasileiro José Graziano da Silva, director-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o nigeriano Kanayo Nwanze, presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), e a norte-americana Ertharin Cousin, Directora Executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM).
O Chefe de Estado reúne-se ainda com representantes de algumas das mais importantes companhias italianas, como Claudio Descalzi, administrador delegado da Ente Nazionale Idrocarburi (ENI), multinacional petrolífera presente em setenta países, e Mauro Moretti, administrador delegado da Finmeccanica, um dos maiores grupos industriais de alta tecnologia do mundo. A Finmeccanica trabalha nas áreas da defesa, sector aeroespacial, segurança, automação, transportes e energia.
Integram a comitiva presidencial o ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa, e os ministros das Relações Exteriores, Georges Chikoti, da Defesa Nacional, João Lourenço, das Finanças, Armando Manuel, da Economia, Abrahão Gourgel, da Agricultura, Afonso Pedro Canga, e altos funcionários do gabinete presidencial.
O Presidente José Eduardo dos Santos deixa amanhã a cidade de Roma e, de acordo com o comunicado divulgado pela Casa Civil da Presidência da República, segue para Espanha, em visita privada.

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