Situação no Burundi levada à Cidade Alta

Fotografia: Rogério Tuti

Fotografia: Rogério Tuti

O Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, líder em exercício da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, recebeu ontem uma mensagem do seu homólogo do Uganda, Yoweri Museveni, no âmbito dos esforços de mediação da crise política no Burundi.

Indicado em Julho último pela Cimeira da Comunidade da África Oriental (EAC), bloco sub-regional formado pelo Burundi, Quénia, Ruanda, Tanzânia e Uganda, Yoweri Museveni procura mobilizar sinergias para reaproximar as partes há vários meses desavindas no país vizinho. O líder ugandês enviou a Luanda o seu ministro da Defesa, Cryspus Kyonga, que privou durante mais de meia hora com o Chefe de Estado angolano.
Em declarações à imprensa, após a audiência, o emissário de Yoweri Museveni manifestou plena confiança nos esforços que o seu país está a empreender para solucionar a crise burundesa, que ganhou novos contornos com as alegações por parte do Governo do Presidente Pierre Nkurunziza, segundo as quais a turbulência que se verifica no Burundi “tem a mão de um país vizinho, a norte do país”.
Questionado sobre as implicações desse dado novo na mediação ugandesa, Cryspus Kyonga disse que apenas ao Governo do Burundi cabe apresentar provas dessas alegações. “De facto, também ouvimos essas alegações. Agora cabe apresentar as provas, pois tenho a certeza que quer o mediador, quer os líderes da região (EAC) vão levar em conta essas acusações, tanto para fins de mediação, como para qualquer outra diligência que se considerar necessária”, declarou.
A Cimeira da Comunidade assume um maior protagonismo na mediação da crise política no Burundi em nome do princípio da subsidiariedade, que leva a que, no plano diplomático, a União Africana (UA) deixe o campo livre a essa organização sub-regional. O Burundi também integra a CIRGL, organização regional criada por iniciativa das Nações Unidas, que é actualmente liderada por Angola.

Outras audiências

A agenda de trabalho do Presidente José Eduardo dos Santos teve ontem outras duas audiências. Os embaixadores do Egipto e da Bélgica, ambos em fim de missão, foram à Cidade Alta despedir-se do Chefe de Estado angolano.
Gamal Matwally está de malas feitas e volta para o Cairo. O diplomata considerou o breve encontro com o Presidente José Eduardo dos Santos como uma oportunidade de expressar a sua gratidão, pessoal e do povo egípcio, pela “cordialidade” com que foi tratado nos últimos quatro anos em Angola, especialmente pelos “momentos extremamente difíceis” que o seu país viveu.
“Os nossos países têm relações históricas e excelentes”, lembrou Matwally, que destaca o facto de Angola ter marcado presença na cerimónia de investidura do Presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, e mais recentemente na cerimónia de inauguração do novo canal de Suez.
O diplomata egípcio está confiante no fortalecimento das relações económicas e comerciais, como forma de acompanhar as “boas relações político-diplomáticas”. O novo embaixador, disse, vai fazer muito, depois de serem assinados o Acordo Geral de Comércio e outros dois que vão viabilizar a criação da Comissão Mista Bilateral e o Mecanismo de Consultas Políticas entre os Ministérios das Relações Exteriores dos dois países. A outra audiência foi concedida ao embaixador belga, Charles Delogne. Ao fim de quatro anos de missão em Angola, o diplomata destaca a estabilidade das relações entre Luanda e Bruxelas, a troca de visitas de alto nível e os novos horizontes que se abrem na cooperação bilateral.
Charles Delogne considerou a missão comercial em Luanda em 2012, com mais de 200 participantes, um marco dos quatro anos de trabalho em Angola. “Uma participação que ultrapassou as nossas expectativas”, disse o diplomata, para quem os três encontros realizados entre os ministros das Relações Exteriores reflectem o nível das relações entre Angola e a Bélgica.
“As nossas relações bilaterais fortaleceram-se e disso não tenho a menor dúvida”, assinalou o diplomata, que lembrou o facto da Bélgica ser um dos países com a mais antiga representação consular em Angola.
“Os belgas tiveram um papel muito importante no desenvolvimento industrial do país, nos diamantes, agricultura e também no petróleo. A primeira exportação comercial do petróleo foi pela empresa belga Petrofina, que hoje faz parte da Total”, afirmou Charles Delogne, que vai assumir uma nova missão no Brasil.

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