Paz nos Grandes Lagos debatida na Cidade Alta

Fotografia: Francisco Bernardo

Fotografia: Francisco Bernardo

O processo de transição política na República Centro Africana (RCA) voltou a ser abordado ontem no Palácio Presidencial da Cidade Alta, durante uma audiência concedida pelo Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, ao eurodeputado Louis Michel, que esteve em Luanda como enviado especial do secretário-geral da Organização Internacional da Francofonia (OIF) na África Central.

Antes de se encontrar com o líder angolano, que é o presidente em exercício da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), organização regional que integra países como a RCA, RDC, Congo, Burundi, Quénia e Uganda, Louis Michel manteve encontro com o Presidente congolês, Denis Sassou Nguesso, que é o mediador da crise centro-africana, que se seguiu à queda do então Presidente François Bozizé, em Março de 2013.
Louis Michel considerou de extrema importância o encontro com o Presidente José Eduardo dos Santos, devido ao papel relevante que o líder angolano tem desempenhado quer no impulso ao funcionamento das autoridades de transição na RCA, quer na busca de uma solução negociada do conflito que assumiu um carácter religioso, já que envolve grupos islâmicos e cristãos entre os beligerantes.

O eurodeputado disse que ouviu com muita atenção o Presidente angolano, assim como o congolês, sobre o actual quadro político na RCA e os possíveis caminhos a seguir para aproximar as partes e devolver a paz e a segurança aos centro-africanos. \”Neste momento, procuramos fazer com que haja aproximação entre as partes. Estamos empenhados na realização de reuniões sectárias em Bangui, para se encontrar um entendimento que vai desembocar no fórum de reconciliação nacional\”, afirmou Louis Michel. O reforço do contingente militar sob mandato da ONU foi também analisado na audiência de ontem, na Cidade Alta. Louis Michel considerou necessário reavaliar o mandato da Missão da ONU de modo a clarificar o grau de intervenção das tropas no terreno. “Falámos da necessidade do reforço das tropas mas também de se redefinir o mandato de modo a que essas forças possam agir no sentido de separar os grupos beligerantes\”, referiu. O enviado especial do secretário-geral da OIF para a África Central disse ter tomado boa nota do posicionamento do Chefe de Estado angolano, sobre a sua disposição para ajudar a RCA. O Presidente José Eduardo dos Santos, assinalou, está disposto a ajudar a RCA no âmbito de um esforço comum de todos os actores envolvidos, pois entende que só dessa forma é possível encontrar as vias mais propícias para restabelecer a paz e a estabilidade neste país.

O encontro de Louis Michel com o líder angolano sobre a RCA tem lugar a poucas semanas do início do mandato de Angola como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A eleição, com 190 dos 193 votos (também foram eleitos a Venezuela, Malásia e nova Zelândia), tem sido destacada pela comunidade internacional, em reconhecimento do papel preponderante na estabilidade da região e do continente africano.
Quando assumiu a presidência da CIRGL, em Janeiro passado, o Presidente angolano apontou como principais prioridades, no plano político, a aplicação do pacto sobre a paz, a estabilidade e o desenvolvimento da região dos Grandes Lagos, e do acordo-quadro para a região, sem esquecer todos os outros compromissos assumidos, assim como a colaboração para a busca da paz e da estabilidade na RCA e no Sudão do Sul.

Sob a égide do Presidente José Eduardo dos Santos, no âmbito da sua liderança na CIRGL, foram realizadas cimeiras em Luanda, além de reuniões a outros níveis, para mobilizar sinergias com vista a ultrapassar as crises na RDC, RCA e no Sudão.
Em Junho passado, numa cimeira que trouxe a Luanda, os presidentes da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, e do Chade, Idriss Deby, o Presidente José Eduardo dos Santos apelou ao reforço da ajuda humanitária às populações afectadas pelo conflito na RCA e ao envio de forças de manutenção da paz da ONU para o terreno.  “Lançamos um apelo à comunidade internacional, e à ONU em particular, para que reforce a sua ajuda humanitária e envie o mais depressa possível as forças de manutenção da paz previstas na pertinente resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirmou.

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