Manuel Pedro Pacavira 1939-2016

Fotografia: Nuno Flash

Fotografia: Nuno Flash

O nacionalista e deputado à Assembleia Nacional Manuel Pedro Pacavira faleceu ontem, em Lisboa, por doença, aos 77 anos.

Ingressado nas fileiras do MPLA no momento da sua fundação, em 1956, coordenou vários grupos de patriotas dos mais diversos estratos sociais e integrou a primeira Comissão Directiva do Movimento Popular de Libertação de Angola, então coordenada pelo Presidente Agostinho Neto, o Fundador da Nação angolana.
O Bureau Político do MPLA lamentou, em comunicado, a morte do destemido combatente pela Independência de Angola e considera-o um nacionalista e africanista convicto que, por causa disso, muito cedo conheceu as cadeias coloniais, tendo nelas permanecido de 1960 a 1974, depois da queda do então regime colonial e fascista, em Portugal.
Fruto da confiança que lhe foi depositada, após a proclamação da Independência Nacional, em 11 de Novembro de 1975, Manuel Pedro Pacavira desempenhou cargos de grande responsabilidade no MPLA e no Governo, funções que desempenhou com muito brio e dedicação.
“Pelo infausto acontecimento, o Bureau Político do Comité Central do MPLA inclina-se perante a memória deste ilustre combatente da Pátria angolana e, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do partido, endereça à família enlutada e à Assembleia Nacional, as suas mais sentidas condolências”, lê-se na mensagem.
O vice-presidente do MPLA também lamentou a morte de Manuel Pedro Pacavira, que considera um exemplar e destacado militante do MPLA que, com brio e dedicação, exerceu as funções que lhe foram acometidas, nas várias etapas da sua vida. Licenciado em Ciências Sociais, em Havana, pela Escola Superior do Partido Comunista de Cuba, Manuel Pedro Pacavira exerceu vários cargos na direcção central do MPLA e foi ministro dos Transportes e da Agricultura, além de embaixador residente em Cuba e na Itália. Foi também embaixador não residente na Nicarágua, México e Guiana, além de representante de Angola junto das Nações Unidas e junto de agências das Nações Unidas, como a FAO, PAM e FIDA. Os amigos descrevem-no como um autodidacta, que adquiriu uma vasta e sólida cultura nas cadeias portuguesas da PIDE-DGS, no campo do Missombo, sob orientação de Jaime Madaleno da Costa Carneiro, e no Tarrafal, sob orientação de António Jacinto do Amaral Martins, com o acompanhamento de Luandino Vieira.
Em declarações à Rádio Nacional de Angola, o secretário do Bureau Político do MPLA para as Relações Internacionais, Julião Mateus Paulo “Dino Matross”, disse que a morte de Manuel Pedro Pacavira apanhou de surpresa toda a direcção do seu partido. Dino Matross considera Manuel Pedro Pacavira um dos ícones da revolução angolana que, por ser muito activo na luta anti-colonial, também esteve preso no processo 50.

Escritor de referência

Nascido no Golungo Alto, Manuel Pedro Pacavira é autor de várias obras, como “Gentes do Mato”, “Boneca”, “Nzinga Mbandi”, “Ndalatando em Chamas”, “4 de Fevereiro pelos Próprios” e “JES – Uma Vida em prol da Pátria”, dedicado ao Presidente José Eduardo dos Santos.  “Angola e o Movimento Revolucionário dos Capitães de Abril em Portugal -Memórias (1974 – 1976)”, foi o seu mais recente livro, considerado um contributo inestimável à compreensão do processo de descolonização e os acontecimentos políticos na antiga colónia portuguesa, entre 25 de Abril de 1974 e Março de 1976, data em que se retiraram de Angola os invasores sul-africanos.
“’As Memórias’ de Manuel Pedro Pacavira sobre este período da história de Angola, escritas num ritmo empolgante e sublinhado pela oralidade, que é matriz da moderna literatura angolana, revelam factos, situações e protagonistas que ajudam a compreender o que estava em jogo num período em que a ‘Guerra-Fria’ estava no auge em África”, escreve a editora.
O livro é considerado uma peça preciosa para melhor compreender o período conturbado entre a queda do fascismo em Portugal e a proclamação da Independência de Angola, à meia-noite de 11 de Novembro de 1975. Revela igualmente factos até agora desconhecidos e que vão ajudar a clarificar algumas etapas do processo de descolonização e, sobretudo, a evolução do MPLA desde o momento em que foi dilacerado pelas chamadas “revoltas” internas até à conquista do poder político.
Manuel Pedro Pacavira recebeu, por ocasião das comemorações do 30° aniversário da independência nacional, celebrada a 11 de Novembro de 2005, um atestado e uma medalha de ouro como combatente da liberdade de 1° grau. Foi co-fundador da UEA – União dos Escritores Angolanos e, depois, vice-presidente da Assembleia Geral no período 1980-1985.

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