Editorial da TPA lido na edição de hoje do Telejornal sobre as ingerências da imprensa portuguesa na soberania de Angola

https://www.youtube.com/watch?v=cn-xvI7pe3U

 

Em vésperas da realização, em Luanda, de mais uma Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), momento em que os nossos governos e povos aproveitarão, mais uma vez, para reafirmar a nossa firme vontade de estreitarmos os laços de irmandade, amizade e cooperação que nos unem, eis que assistimos a acções contrárias a este espírito e caminho irreversível, que estamos todos obrigados a seguir.

A partir de Lisboa, há quem ainda pense ser possível fazer ingerência abusiva e grosseira nos assuntos de outros Estados da mesma comunidade, cujos povos partilham não só a língua, a cultura, mas que ao longo de séculos, construíram uma história comum.

Os meios de comunicação, nestes casos, são apenas os veículos de transmissão desta campanha de desestabilização dos nossos países, daí não acusarmos nenhum deles em concreto.

Isto vem a propósito de reiteradas tentativas de, com reportagens televisivas, artigos em jornais ou por outros meios, procurar demonstrar que, apesar de muito propalado, Angola não está realmente empenhada na luta contra a corrupção, o que não tem nada de verdade.

Em matéria de combate contra a corrupção e a impunidade, em apenas três anos Angola fez mais do que aqueles que nos pretendem dar lições. Angola não é menor de idade, já tem pelo menos quarenta e cinco anos de idade como Estado soberano e independente.

Para não falar dos inúmeros casos menos mediáticos, a Justiça angolana julgou e condenou dois Ministros, um Governador do Banco Central e o gestor do Fundo Soberano de Angola, mesmo sendo filho do ex-Presidente da República.

Foi constituído arguido e está em vias de ser julgado pelo Tribunal competente, o gestor da seguradora AAA, propriedade da  empresa pública Sonangol, que, por obra e graça de São Vicente, se transformou em suposta propriedade do empregado, a quem o legítimo proprietário confiou a sua gestão.

Por sinal, o protagonista desta façanha é genro do Presidente fundador da Nação, pessoa de uma verticalidade moral acima de qualquer suspeita.

O Chefe de Estado angolano afastou das suas funções, no período de uma semana, oito generais afectos à sua própria Casa de Segurança, por suspeitas de presumível ligação a um caso de corrupção, posse ilegal de divisas,  branqueamento e fuga de capitais.

Apesar de todo o apoio  das autoridades políticas e judiciais competentes de outros Estados, o que desde já se agradece, os maiores interessados na luta contra a corrupção em Angola são os angolanos e suas Autoridades, como vem ficando demonstrado, da mesma forma que os maiores interessados no combate contra a corrupção em Portugal, são os portugueses.

Portugal tem, entre outros, o processo Marquês, que se arrasta anos a fio,  mas nunca a comunicação social  angolana interpelou o Chefe de Estado português ou o 1° Ministro português para se pronunciarem sobre o caso, porque não nos diz respeito, mas também porque sabemos que tanto como em Angola, não é deles a responsabilidade pelo bom andamento ou não dos processos judiciais.

Essas forças, que hoje se julgam no direito de pressionar o Chefe de Estado angolano a demitir ministros, como se isso fosse possível, deveriam pressionar a Justiça portuguesa a abrir processos-crime contra os cidadãos portugueses que geriram as fortunas angolanas exibidas em Portugal nos últimos vinte anos e que, na altura, eram consideradas bem-vindas, com a conivência de muito boa gente hoje travestida  de moralista sem moral.

No meio de toda esta pouca vergonha, atrevimento e insensatez, resta-nos a consolação de, a nível institucional, o Chefe de Estado Português, o Governo português e a Justiça portuguesa, trabalharem sempre pela manutenção das boas relações de amizade e de cooperação entre os nossos países, mantendo-se  longe dos círculos que nos querem tratar como meras marionetas de circo, embora devessem saber que com Angola isso não é possível.

 

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