BNA paga dividendos às companhias aéreas

Alexandre de Juniac Fotografia: Paulo Mulaza | Edições Novembro

Alexandre de Juniac
Fotografia: Paulo Mulaza | Edições Novembro

O presidente da Associação Internacional dos Transportes Aéreos (IATA), Alexandre de Juniac, revelou, ontem em Luanda, ter recebido garantias do Banco Nacional de Angola (BNA) de que os dividendos das  companhias aéreas estrangeiras que operam no país vão ser repatriados integral e gradualmente nos próximos 12 meses.

 O montante global reclamado pelas companhias estrangeiras que operam no país, acrescentou o presidente da IATA numa conferência internacional realizada ontem, em Luanda, ascendia, até Dezembro de 2017, aos 540 milhões de dólares.
“Mas o problema não se coloca apenas em Angola”, disse, salientando que, na mesma condição, encontram-se nove países africanos, a braços com problemas económicos e financeiros.
Em declarações anteriores, na quarta-feira, Alexandre Juniac afirmou que as autotidades angolanas tinham sido “muito receptivas” quanto á solução do problema.
Apesar da conjuntura que o país atravessa, a IATA estima que o mercado angolano do ramo registe, durante os próximos 20 anos, um crescimento anual de 6,7 por cen­to, que se traduzirá no aumento do número de passageiros de pouco mais de um milhão, actualmente, para 7,1 milhões.
As perspectivas de crescimento do mercado angolano de aviação civil nos próximos 20 anos, na visão da IATA, seriam maiores “se o país abrisse um pouco mais o seu mercado e priorizasse a sua participação nos esforços de conectividade em curso no continente, que passam pelo desbloqueamento de recursos e consultas às instancias internacionais de aviação em matérias relacionadas aos investimentos em infra-estruturas”.
Um estudo recente da IATA conclui que, se fossem abertos 12 mercados importantes em África, incluindo Angola, isso resultaria em 155 mil empregos adicionais, com receitas anuais de 1,3 mil milhões de dólares. Nesse exercício conjunto, Angola, teria como benefícios 15.300 novos postos de trabalho, 137 milhões de dólares por ano e período pelo que via aumentar o número de passageiros para 531 mil.
O sector da aviação em África emprega 6,8 milhões de pessoas e contribui com 7,3 mil milhões de dólares para o Produto Interno Bruto do continente, ressaltou presidente da IATA, salientando o contributo do sector nas ligações entre pessoas e em­presas, bem como na promoção do comércio e turismo.
“Angola precisa de trabalhar para garantir que está preparada para aproveitar os benefícios futuros de uma maior conectividade aérea”, disse Alexandre de Juniac, que encorajou as autoridades do país a participarem activamente no Mercado Único de Transporte Aéreo (SAATM), uma iniciativa da União Africana, que pode ser concretizada ainda no decurso deste mês. Com a criação do Mercado Único de Transporte Aéreo, ressaltou, África pode realizar uma rápida transformação económica e social, cabendo a cada país adoptar e colocar em prática o projecto, se quiser aproveitar todos os benefícios da aviação. “Insistimos em que Angola participe do SAATM e não perca as oportunidades de um país conectado”, sublinhou Alexandre de Juniac. O Mercado Único de Transporte Aéreo é uma iniciativa da Associação Africana da Aviação Civil, agência União Africana. Os gigantes do sector no continente, entre os quais a Nigéria, África do Sul, Ruanda, Marrocos, Etiópia e Quénia, que respondem por cerca de 85 por cento do tráfego aéreo em África, são hoje os principais impulsionadores do projecto.
Países com problemas no sector, raramente citados, mostram-se poucos entusiasmados com o projecto percebido como o “escancarar dos céus” de África, permitindo que as companhias aéreas do continente voem para qualquer destino, sem restrições e em pé de igualdade.
Angola é membro da Associação Africana da Aviação Civil, cuja Constituição em vigor ratificou em Maio de 2017. A organização continental e a IATA olham para o país como um mercado com fortes potencialidades.

Repatriamento das receitas

Para melhorar o seu mercado de aviação, de acordo com o director da IATA, Angola precisa ultrapassar alguns constrangimentos, a começar pelo desbloqueamento de capitais, que impede as companhias aéreas estrangeiras que operam no país de repatriar as suas receitas.
O problema, prosseguiu, não sendo exclusivo de Angola, porque afecta nove países em África, é, no en­tanto, da responsabilidade dos Estados onde se verifica, com prejuízos para as companhias internacionais que não conseguem repatriar os seus ganhos e para as nacionais que se vêm impossibilitadas de honrar os seus com­promissos em moeda externa com fornecedores e parceiros. A expansão e melhoramento das infra-estruturas aeroportuárias foi outra preocupação apontada pelo presidente da IATA, chamando a atenção para a necessidade de se ter sempre em conta os requisitos exigidos pelas companhias aéreas.

Novo aeroporto

Em relação a Angola, admitiu que o Novo Aeroporto Internacional de Luanda, em construção, vai cumprir um papel importante no sector da aviação, sobretudo se os custos da obra permitirem que se pratiquem preços competitivos. “Investimentos desnecessários trazem custos mais altos para as companhias e, consequentemente, para os passageiros, resultando daí menor procura pelos serviços de aviação”, lembrou.
Referindo-se a questões de segurança no mercado africano de aviação, reconheceu que, de um modo geral, houve avanços, confirmados, entre outros indicadores, pelo facto de em 2016, por exemplo, não ter havido “nenhum registo de acidente fatal ou perda de aparelhos no espaço na África subsariana”.
Sobre esta matéria, o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, referiu que Angola deu passos significativos nos últimos dez anos, os quais resultaram na retirada da companhia de bandeira (TAAG) da chamada lista negra da União Europeia.
Ainda em relação à segurança, Augusto Tomás indicou que, ao longo desse período, o país realizou reformas legais destinadas a adequar o funcionamento do sector às normas internacionais, tendo aprovado 218 diplomas legais, que totalizam quatro mil páginas.
Alexandre de Juniac encabeçou uma delegação da IATA que, além de manter negociações com o Governo angolano, participou na Conferência Internacional sobre a Aviação Civil, realizada ontem em Luanda.
A conferência, uma organização conjunta da TAAG e da IATA, teve, entre outros oradores, o vice-presidente regional da IATA para África e Médio Oriente, Muhammad  Ali Albakri, o presidente da IATA e o  representante da Bo­eing para África e Médio Ori­ente, Miguel Domingos.
Entre os temas abordados destacam-se o estado da in­dústria da aviação, valor da aviação, regulamentações inteligentes, sistemas de compensação e redução das emissões de carbono para a aviação internacional, assim como o programa de desenvolvimento da IATA.

Pessoal excedentário encarece custos operacionais da TAAG

A TAAG, Linhas Aéreas de Angola, tem um excedente de pessoal estimado em dois mil trabalhadores, o que sobrecarrega os custos da empresa, declarou ontem o presidente do Conselho de Administração da Companhia, José João Kuvínga.
A empresa tem mais três mil trabalhadores, quase o triplo do número que precisa para o seu normal funcionamento, disse o gestor, afastando, no entanto, a hipótese de despedimento colectivo do pessoal excedentário. Em declarações à imprensa, à margem da conferência internacional realizada ontem, em Luanda, pela TAAG e a Associação Internacional da Aviação (IATA), José João Kuvínga disse que, em vez de despedimentos, a companhia optou pelo reenquadramento e transferências internas dos trabalhadores, para tirar maior proveito do pessoal.
O processo de reestruturação da empresa, prosseguiu, vai ser aprofundado até nivelar o número de trabalhadores e os equipamentos às reais necessidades da companhia, para torná-la mais competitiva.  Referindo-se à directiva que impede a compra de bilhetes em kwanzas com início de viagem no estrangeiro, o presidente do Conselho de Administração da TAAG justificou a manutenção da medida com os custos operacionais que a companhia tem nos países em que opera.
“Não faz sentido praticar preços em kwanzas para pessoas que se deslocam para Angola, quando nos países onde iniciam a viagem a TAAG tem custos em divisas”, disse. Em relação aos dois últimos incidentes envolvendo aparelhos da companhia, um ocorrido no Aeroporto de Lisboa e outro no trajecto entre Luanda e o Lubango, o administrador executivo da TAAG,  Américo Borges, disse que as duas situações resultaram de problemas “técnicos normais” na aviação civil.
A aeronave do tipo Boeing 737–700, com destino ao Lu­bango levava a bordo acima de 60 passageiros e, de acor­do com o administrador executivo da TAAG, já retomou as operações.

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