Angola e Rússia aprofundam cooperação económica

MINA DIAMANTÍFERA DE CATOCA, NA LUNDA SUL, CONTA COM A COOPERAÇÃO RUSSA FOTO: HÉLDER DIAS

MINA DIAMANTÍFERA DE CATOCA, NA LUNDA SUL, CONTA COM A COOPERAÇÃO RUSSA
FOTO: HÉLDER DIAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

31 Março de 2019 | 17h23 – Actualizado em 31 Março de 2019 | 17h22

Angola e Rússia, parceiros de longa data nos campos político e diplomático, pretendem aprofundar a cooperação económica, caracterizada por trocas comerciais muito aquém das potencialidades reais de ambos os países.

A título ilustrativo, com base nos registos de há três anos, as trocas comerciais atingiram apenas os USD 500 milhões, em 2016, volume 15 vezes maior do valor registado em 2012, de USD 25 milhões.

Essas cifras são insignificantes, quando comparadas com as de outros países que mantêm trocas comerciais com Angola, como é o caso da China, conforme reconheceu, há três anos, o antigo embaixador russo, Dmitry Lobach.

O ex-embaixador  russo em Angola, Dmitry Lobach, disse aquando da apresentação de cumprimento de despedidas ao ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, que uma das tarefas principais era a diversificação das trocas comerciais, bem como as relações económicas, no geral, de modo a não ficar só na área diamantífera ou das altas tecnologias, como a cooperação aeroespacial.

“Queremos diversificá-la (a cooperação) e estão à mesa de negociações programas e planos de construção das fábricas de produção e equipamento técnico e projectos na área da agricultura, dos transportes. No entanto, ainda é cedo para podermos falar destes projectos”, afirmara na altura.

As autoridades dos dois países já manifestaram a necessidade da presença russa ir  além destes sectores e passar a ter uma participação activa no processo de diversificação económica em curso, sobretudo no domínio agrícola.

Aquando da 10ª Cimeira dos BRICS, que decorreu em Julho de 2018, na África do Sul, o Presidente angolano, João Lourenço, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, concordaram na necessidade da elevação do nível das relações económicas e comerciais entre os dois países.

João Lourenço declarou a Vladimir Putin que a participação da Rússia na economia nacional ocorre, sobretudo, na indústria extractiva e que as autoridades angolanas pretendiam ver expandida essa cooperação a outros domínios.

“A presença russa na economia angolana é, sobretudo, na indústria extractiva, mas gostaríamos imenso que as grandes potencialidades actuais da Rússia se fizessem presentes, também, em Angola, em outros domínios”, afirmara na altura o Presidente angolano.

O Chefe de Estado angolano solicitou, na altura, o envolvimento de empresários russos na economia angolana, para ajudarem o país a concretizar uma agenda de desenvolvimento, projectada para depois dos 16 anos de paz.

João Lourenço notou que, “ao longo dos 42 anos de independência, a Rússia sempre esteve do lado dos angolanos na luta contra o regime do apartheid, que ameaçava Angola e a África”, declarando ao seu homólogo que “o povo angolano nunca esquecerá essa amizade, forjada na luta”.

“O volume do nosso comércio bilateral por enquanto não é grande, mas temos um grande potencial e bons projectos para aumentá-lo”, afirmou Vladimir Putin, que disse  ter aproveitado a oportunidade de abordar a questão com João Lourenço.

Apesar do intercâmbio comercial ser ainda residual, a Rússia mantém presença em quatro sectores-chaves da economia angolana: diamantes, energia, telecomunicações e banca.

Nos diamantes, a Rússia está presente com a empresa Alrosa, parceira da Endiama na Sociedade Mineira de Catoca, na Lunda Sul, onde se encontra a quarta maior mina de diamante do mundo a céu aberto.

Catoca é responsável por mais de 75 por cento dos 9,4 milhões de quilates de diamantes explorados no país.

No sector das telecomunicações, os russos estão a trabalhar com as autoridades angolanas para que Angola tenha em operação nos próximos dois anos o satélite Angosat-2, uma vez que o Angosat1, lançado a 26 de Dezembro de 2017, apresentou problemas técnicos e encontra-se perdido no espaço.

O lançamento do AngoSat-1 pelo foguete Zenit ocorreu no dia 26 de Dezembro de 2017. O seu seguro esteve avaliado em USD 121 milhões, cabendo às empresas russas cobrir eventuais defeitos.

A Rússia tem também uma presença no sector eléctrico, por ter participado no fornecimento dos componentes mecânicos e hidromecânicos, assim como as quatro turbinas do primeiro aproveitamento hidroeléctrico construído no pós-independência: barragem de Capanda, na província de Malanje, em funcionamento desde 2005, com uma potência de 520 MW.

A firma russa Technopromexport (TPE) foi a responsável pela instalação dos equipamentos, nomeadamente as quatro turbinas, enquanto a projectista sub-contratada pela última, a Hydroproject, também é russa.

Além de Capanda, os russos também construíram, através da Al-Rosa Venestroy, a barragem de Chicapa, na Lunda Sul, com capacidade de 16 Megawatts, que fornece energia à Sociedade Mineira de Catoca e à cidade de Saurimo.

Na banca, a Rússia está presente desde 2006 com o Banco VTB África. A instituição financeira bancária escolheu como foco de sua actuação no mercado angolano o financiamento de projectos de grande dimensão no país e no continente africano.

Arrancou na altura um capital inicial de 10 milhões de dólares, dos quais 66 por cento pertenciam ao Banco de Comércio Externo da Rússia e os restantes 34 assumidos por empresários angolanos.

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